quarta-feira, 10 de outubro de 2007

As lógicas de apropriação dos espaços: urbano vs rural e cidade vs campo (II)


O que se pretende aqui é, desconstruir aquele discurso corrente que estabelece o campo como directa e exclusivamente associado ao rural a cidade directa e exclusivamente associada a cidade. Assim, parece automático que o facto de se viver na cidade (como espaço físico) induz as pessoas adquirirem um determinado modo de vida considerado específico desse espaço. Vemos assim, um equívoco que conduz a sobreposição daquilo que é a materialidade sobre o que constitui-se como efeito sociocultural.
Desconstruir este discurso, passa por discutir dicotomicamente os conceitos campo e cidade como realidades materiais, como a representação morfológica de um determinado território. Isto quer dizer que em relação aos conceitos campo e cidade, olhamos de forma descritiva para questões como densidade populacional, caracterizando-se a cidade com uma elevada densidade populacional ;a predominância do construido ou do não-construido, sendo que o campo é estruturado pelo não-construido (muito verde), e a cidade o contrário. Temos ainda que, se por um lado, a cidade caracteriza pela oposição entre espaços públicos e abertos a todos como as ruas, praças, jardins, etc e espaços privados de acesso reservado e limitado como casas ou clubes privados; a cidade é ainda o lugar onde diferentes grupos embora distintos uns dos outros coexistem entre si devido a partilha legitima de um mesmo território resultando na multiplicidade das inter-relações sociais. Por outro lado, o campo é um lugar visto como estando numa dependênca em relação a cidade que o controla em quase todas suas actividades, principalmente na produção agricola.
Entretanto, se a cidade e o campo são conceitos referentes a modos de territorialidade específicos, os conceitos rural e urbano são tipologias que evocam modos de vida. Estes modos de vida, vão estruturar-se em função do raio de acção da vida quotidiana dos indivíduos. Se em tempos (até a idade média) a vida quotidiana era estruturada em função da morfologia espacial. Mas com o desenvolvimento dos meios de transportes e de comunicação, o tempo desenraiza-se do espaço e a ligação directa morfologia espacial e efeitos sociais vai se diluir de tal modo que habitar no campo não significa necessariamente trabalhar na agricultura nem no campo. Enfim, as relações pessoais e espacialmente localizadas e caracterizadas pela proximidade física deixam de caracterizar o sisema de interacções e os modelos culturais.
De forma resumida, melhor, sendo curto o que isto quer dizer é que o modo de vida urbano pode caracterizar o campo assim como o modo de vida rural pode caracterizar a cidade.


Continue de olho que tem mais...

Sem comentários: