terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Terminou a cimeira Europa-África


Então caros bloglistas! Antes da realização da cimeira Europa-África foram aparecendo inúmeras postagens sobre a cimeira. Eram preocupações, previsões, Mugabe para aqui, Khadafi para ali, Gordon Brown para acolá, etc, etc. Terminou a cimeira. Alguém voltou a falar nela? Parece que ficamos todos (bloguistas) mudos. E o balanço? Estamos ainda preparando as análises?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

2007: balanço positivo


O Secretário-geral da Frelimo (ou do governo? Uma vez que os discursos confundem-nos tanto que ficamos sem saber onde exactamente termina o partido e começa o governo), Filipe Paúnde disse muito recentemente que “o ano 2007 foi excelente para os moçambicanos”. E as justificativas para esta afirmação podem ser lidas aqui (e aconselho a lerem a notícia antes de prosseguirem).
Depois de ler a notícia me perguntei se eu ando muito distraído ou se estou a viver no mesmo país em que certa camada de políticos vive?

Não discuto se o ano de 2007 foi ou não excelente para os moçambicanos. Apesar de ser discutível. O que questiono são as razões/indicadores apresentados para justificar que 2007 foi um “ano bom”. Vejamos:

O ano 2007 foi “excelente” para os moçambicanos porque:
1. “O partido Frelimo aumentou seus membros”Mas em que medida e até que ponto o aumento do número de membros do partido Frelimo constitui indicador explicativo e determinante para o bem estar dos moçambicanos?

2. “O recenseamento eleitoral foi positivo”Pois, tão positivo que teve que ser prolongado até Março d 2008. Se as percentagens do recenseamento eleitoral determinam de facto o bem estar dos moçambicanos, as até agora registadas não me parecem muito famosas, logo, não sei como se pode concluir a partir delas que o ano de 2007 foi excelente.

3. “Construção de novas infra-estruturas”Faltou especificar que tipo de infra-estruturas (será que foi falha ou opção da redacção?). Que grandes infra-estruturas foram construídas em 2007? O famoso “mega” centro comercial? Contribuiu tanto para que o ano 2007 fosse classificado como excelente, que uma certa individualidade portuguesa numa visita ao centro comercial empolgou-se e acabou afirmando que “em Moçambique não há fome”. Será que o poder de compra dos moçambicanos melhorou tanto que o centro comercial constituirá uma opção como lugar para compras?
Se de infra-estruturas não se refere ao centro comercial, qual seria outra infra-estrutura de preferência que o povo beneficie directamente? Como mega escolas, mega hospitais, mega etc?

4. “Melhoria do atendimento nas instituições públicas, principalmente hospitais”
Que os altos dirigentes se disfarcem de pacatos cidadãos e visitem notários, hospitais e outras repartições públicas e depois voltaremos a conversar sobre este ponto para percebermos se é um indicador válido para analisar se o ano 2007 foi de facto bom.

E em relação aos momentos maus de 2007!?
São tantos, e alguns foram identificados pelo Secretário-geral da Felimo (ou do governo?). faltou estar também referenciado o que se aprendeu com estes maus momentos e que medidas concretas de precaução foram ou estão sendo tomadas para que o governo (ou será partido?) não seja de novo apanhado “de calças curtas”.

Estou de olho.....

De volta...


Depois de uma ausência prolongada e sem aviso prévio, eis-me aqui de volta.
Foram tantas as razões que estiveram por detrás do súbito corte e ausência dos meandros da blogosfera e infelizmente a maior parte delas não muito boas. Foi um acontecimento seguido de outro. Foi um verdadeiro “efeito dominó”.
Foi tudo tão repentino que nem deu tempo para deixar aquele discurso habitual que todos conhecemos: “estarei ausente por X tempo, blá blá... sempre que puder deixarei algum comentário blá blá... logo que possível voltarei blá blá blá...”
Cheguei mesmo a pensar em consultar um daqueles milagreiros vindo do centro de África e que cura qulquer doença assim como afasta qualquer “olho gordo”. É que equacionei a hipótese de um dos meus finados avós (que Deus os tenha) estar zangado comigo.
Mas parece que tudo voltou a normalidade. Voltei a rotina habitual e por isso para alegria de uns e talvez tristeza de outros, estou de volta e com os olhos mais abertos que nunca.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

R.I.P.


A estrela africana de reggae (Lucky Dube) foi assassinada num assalto em johannesburg. Confira a notícia aqui

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Grupo da Dívida exige transparencia na aplicação orçamental

Leia a notícia aqui.
É aquilo que ultimamente tenho estado a gritar aos quatro ventos. Vamos ser vigilantes em relacção a gestão da “mola” dos cofres do Estado. Aquela “mola” não pertence a um clubinho de amiguinhos que faz uso dela a seu belo prazer. Vamos cobrar as faturas e os recibos. Vamos cobrar a viabilidade na aplicação da “mola”.

Estou de olho.

Puxassaquismo: A cauda do chefe


Este texto é escrito a propósito das inúmera visitas que os nossos mais altos dirigentes (me refiro aos ministros, governadores e o próprio Presidente da república de Moçambique) efectuam, principalmente quando e deslocam para for a da capital do país (para as províncias) ou para os distritos.
Mas como exemplo, começemos por ler uma destas notícias:


«Na visita de Alberto Vaquina: Governo de Marromeu mostra desorganização
O governo de Marromeu deixou o governador de Sofala, Alberto Vaquina, bastante “transtornado”, ao mostrar claramente que não estava preparado para receber este dirigente e a sua comitiva, que integrava alguns directores provinciais e adinistradores dos distritos de Chibabava e Machanga, Anabela Santiago e Pita Jojó, respectivamente, durante a visita terminada anteontem.
Verificamos que houve algumas dificuldades de organização na própria visita aqui em Marromeu, cujas causas ainda não sabemos quais são e, naturalmente, com mais tempo em conversa com os quadros do distrito estaremos a perceber melhor quais são as falhas e em que o governo da província pôde contribuir para ajudar o governo do distrito a minimizar as falhas” ─ disse Vaquina.
A situação com que se deparou no distrito de Marromeu preocupa o Governo provincial de Sofala, tendo em conta que em ocasiões anteriores o Executivo distrital já mostrou que sabe organizar visitas do género, segundo afirmou Vaquina na conferência de imprensa qe marcou o fim da sua visita àquele ponto do país.
O que se constatou em Marromeu foi praticamente diferente de outros distritos escalados por Vaquina na sua recente digressão, nomeadamente Gorongosa, Marínguè, Chemba e Caia.
Seja como for, olhando para o programa do Governo, que são as grandes realizações, elas estão patentes no distrito de Marromeu, talvez nos falta um pouco mais de dinamismo, no sentido de galvanizar as populações em torno do trabalho que o Governo está realizar” ─ sublinhou.
O “Diário de Moçambique” observou que nos comícios orientados por Vaquina no regulado de Nhane e zona de Chueza, no distrito de Marromeu, as pessoas presentes podiam contar-se com os dedos da mão.
Questionado se a pouca afluência da população aos comícios terá sido por falta de organização, o governador de Sofala disse que “o que dissemos é que, olhando globalmente para esta visita, constatamos que há questões de organização que noutros momentos foram melhores”.
Contrariamente ao que acontecia nos outros distritos, em Marromeu, a reunião de balanço durou muito tempo porque estava a ser analisada pormenorizadamente a situação que ocorreu neste distrito.»
in Diário de Moçambique (15/10/2007)


Pena o governador ter sido muito evasivo no discurso. Ainda estou para entender que questões de organização são estas que falharam. O que o governador quis dizer com falhas e dificuldades de organização na visita?

Pretendo a partir daqui chamar a atenção para dois aspectos: as comitivas que acompanham os alto-dirigentes e os que os esperam para recepção.
Talvez por eu não estar por dentro do mecanismo de funcionamento da máquina governativa, esteja com muitas dúvidas, reticências e preocupação com a comitiva e a recepção. Será que há mesmo necessidade que se arme o teatro que temos assistido?
Não consigo perceber porque um governador quando visita um distrito tem de levar consigo quase todos directores provinciais, secretários e mais não sei quem!
Recentemente o Procurador Geral visitou Sofala e escalou alguns distritos da Província. Precisavam ver o teatro. Quase todos Juizes (pelo menos da cidade da Beira), seguiram o Procurador pelos distritos que escalou. Isto apesar de o rocurador já ter reunido com estes na cidade da Beira. E mais. Será que o Procurador a nível da província não se tem reunido com seus Juizes para saber como vai andando a sua casa? Será que Procurador a nível da província não pode em função da informação que dispõe (assumindo que se reune com seus Juizes) por o Procurador Geral a par da situação da província? A companhia apenas do Procurador provincial na ronda pelos distritos não seria suficiente?
Não consigo perceber qual a necessidade de o Procurador arrastar consigo uma comitiva muito grande! Falo do Procurador e Juizes como poderia falar do Governador e seus directores.
Ninguém pensa na factura a pagar para ter tamanha comitiva (cauda) consigo? As viatura (combustível), alimentação, hospedagem, enfim, as famosas ajudas de custo!
E o dinheiro para pagar tudo isto sai mesmo donde? Acho que nem preciso responder.

Além da cauda que o chefe arrasta consigo, para completar o teatro temos a recepção.
“Mobilizam-se” (entre aspas porque tenho minhas dúvidas que mobilizam. Aposto que obrigam) os estudantes a estarem na recepção e no comício do chefe, resultando muitas vezes na paralização das aulas; se for um dia laboral (segunda à sexta-feira) as instituições públicas funcionam a meio gás, talvez só lá fica o guarda de plantão para avisar a quem chega que foram todos receber o chefe; em alguns casos, chega-se ao extremo de reabilitar e mobilar uma casa para o chefe la passar umas horitas.
E donde sai a verba para todo este teatro? Também não preciso responder.

E no final das visitas o balanço é sempre positívo e o discurso é sempre aquele pré-fabricado que já conhecemos: “iamos ver como esta sendo implementado o plano quinquenal do governo, e chegamos conclusão que estamos no bom caminho, os planos estão sendo cumpridos”.

Mas a pobreza continua por combater, quando o chefe vai as queixas no terreno continuam as mesmas.
Se nós não fiscalizamos a gestão da nossa “mola”. (Sim! A “mola” é nossa) quem o fará? A comunidade internacional? Temos que começar a prestar mais atenção nas actividades do nosso Governo e cobrar as facturas pelos gastos que tem feito.
Temos que estar sempre de olho...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A chama da unidade


Não sei por que carga d’água acordei pensando na “famosa chama da unidade nacional”, e decidi fazer algumas cobranças.
Passam cerca de dois anos e quatro meses desde que o presidente da república Armando Guebuza deu início à marcha contra a pobreza. Esta marcha consistiu em acender uma tocha que ficou conhecida de chama da unidade nacional e que percorreu as dez províncias de Moçambique, tendo a marcha iniciado em Nagande (Província de Cabo Delgado) e terminado no Maputo (cidade) na semana de comemoração de mais um aniversário da Independência nacional.
A iniciativa da marcha teve como lema “do Rovuma ao Maputo, juntos na luta contra a pobreza", e de acordo com os altos dirigentes do governo pretendia-se com a marcha promover valores de cidadania, reafirmar a identidade nacional e o "orgulho na moçambicanidade". Pretendia-se ainda contribuir para a educação das novas gerações em valores patrióticos e insistir na importância do envolvimento de toda a população na luta contra a pobreza. E mais, o presidente da república havia afirmado que "a marcha constitui igualmente uma oportunidade para nos galvanizar para uma implementação mais célere da nossa agenda nacional e para a remoção dos obstáculos ao nosso desenvolvimento nomeadamente, o espírito de deixa-andar, o burocratismo, a corrupção e o crime"

Eu pergunto: quais os custos financeiros estiveram envolvidos na realização do evento? Foi dinheiro tirando donde? De certeza que fiquei e muitos ficaram sem uns tantos porcentos do salário (em impostos) para ajudar a custear o evento.
Passados que estão mais de dois anos, alguém perguntou se foram alcançados os objectivos que haviam sido preconizados? Em que medida a chama da unidade contribuiu para o combate a pobreza absoluta?
E os moçambicanos? Tornaram-se ou estão se tornando cada vez mais orgulhosos da sua moçambicanidade? As novas gerações estão mais patrióticas?
A marcha contribuiu para o combate a corrupção? Para o combate ao crime?

Uma coisa é certa, pelo aparato que foi sendo criado por onde a chama passou na sua caminada, contribui e muito para diminuir muitos zeros dos cofres do Estado. Zeros estes que poderiam ser usados de uma outra maneira. Que poderiam ter uma melhor aplicação.
Mas como ninguem cobra nada, ninguém diz nada, o mais provável é o Estado continuar esvaziando os cofres com iniciativas que nenhum benefício concreto trazem.

Temos que estar de olho...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Simplesmente horrível: informação ou desinformação?

Esta é uma daquelas notícias que apetece dizer sem comentários. Mas tecerei alguns mais abaixo. Leiam primeiro a noticia abaixo e se quiserem ler da fonte original podem fazer aqui.

Cidadãos desconhecem objectivos da Assembleias Provinciais
(08/10/2007)
Há escassos meses para a realização das primeiras eleições para as Assembleias Provinciais e há duas semanas após o início do recenseamento eleitoral, prevalece, entre os cidadãos da cidade de Maputo, um défice de informação sobre os objectivos deste escrutínio.

Numa ronda feita pela nossa equipa de reportagem, este domingo, constatámos que poucos são os cidadãos que têm conhecimento dos objectivos das Assembleias Provinciais, ou seja, de quem será eleito e do que irão fazer essas assembleias e que mudanças política, económica e social irão trazer para o país.

Dos quatro cidadãos interpelados no acto do recenseamento eleitoral apenas um foi ao encontro dos objectivos preconizados por estas eleições ao afirmar “que visa descentralizar o poder às províncias de forma que possam, por si, decidir sobre o seu destino”.

Por seu turno, outros dois, especificamente o segundo e o terceiro entrevistado, disseram que as eleições provinciais visam à escolha do Chefe do Estado e os presidentes dos conselhos municipais, sendo que o quarto disse desconhecer o sentido do pleito, marcado para 16 de Janeiro próximo.

Face a esta falta de informação generalizada, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral disse estar a desenvolver campanhas de sensibilização por meio de panfletos e boletins de informação.



É um excelente exemplo de um mau serviço jornalistico. Não precisamos dar muitas voltas para perceber isso.
Como pode o jornalista afirmar que os cidadãos da cidade de Maputo tem um défice de informação sobre objectivos das assembleias provinciais, partindo de uma amostra de quatro cidadãos? Éste número é representativo dos citadinos da cidade de Maputo? Ou a qualidade da amostra? Isto é, talvez tenha interpelado cidadãos que por alguma razão (Poder económico? Religioso? Político? Tudo junto?) são representativos dos citadinos de Maputo? E onde foram interpelados? No mesmo posto de recenseamento ou em locais diferentes?
Como podem estes quatro cidadãos constituir um número suficiente para generalizar?
É com estes jornalistas que contamos para levar informação à nossas casas? E aquele cidadão que por diversas razões não tem capacidades de questionar a informação que consome?


De olho...

As lógicas de apropriação dos espaços: urbano vs rural e cidade vs campo (II)


O que se pretende aqui é, desconstruir aquele discurso corrente que estabelece o campo como directa e exclusivamente associado ao rural a cidade directa e exclusivamente associada a cidade. Assim, parece automático que o facto de se viver na cidade (como espaço físico) induz as pessoas adquirirem um determinado modo de vida considerado específico desse espaço. Vemos assim, um equívoco que conduz a sobreposição daquilo que é a materialidade sobre o que constitui-se como efeito sociocultural.
Desconstruir este discurso, passa por discutir dicotomicamente os conceitos campo e cidade como realidades materiais, como a representação morfológica de um determinado território. Isto quer dizer que em relação aos conceitos campo e cidade, olhamos de forma descritiva para questões como densidade populacional, caracterizando-se a cidade com uma elevada densidade populacional ;a predominância do construido ou do não-construido, sendo que o campo é estruturado pelo não-construido (muito verde), e a cidade o contrário. Temos ainda que, se por um lado, a cidade caracteriza pela oposição entre espaços públicos e abertos a todos como as ruas, praças, jardins, etc e espaços privados de acesso reservado e limitado como casas ou clubes privados; a cidade é ainda o lugar onde diferentes grupos embora distintos uns dos outros coexistem entre si devido a partilha legitima de um mesmo território resultando na multiplicidade das inter-relações sociais. Por outro lado, o campo é um lugar visto como estando numa dependênca em relação a cidade que o controla em quase todas suas actividades, principalmente na produção agricola.
Entretanto, se a cidade e o campo são conceitos referentes a modos de territorialidade específicos, os conceitos rural e urbano são tipologias que evocam modos de vida. Estes modos de vida, vão estruturar-se em função do raio de acção da vida quotidiana dos indivíduos. Se em tempos (até a idade média) a vida quotidiana era estruturada em função da morfologia espacial. Mas com o desenvolvimento dos meios de transportes e de comunicação, o tempo desenraiza-se do espaço e a ligação directa morfologia espacial e efeitos sociais vai se diluir de tal modo que habitar no campo não significa necessariamente trabalhar na agricultura nem no campo. Enfim, as relações pessoais e espacialmente localizadas e caracterizadas pela proximidade física deixam de caracterizar o sisema de interacções e os modelos culturais.
De forma resumida, melhor, sendo curto o que isto quer dizer é que o modo de vida urbano pode caracterizar o campo assim como o modo de vida rural pode caracterizar a cidade.


Continue de olho que tem mais...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

As lógicas de apropriação dos espaços: urbano/rural vs cidade/campo (I)


“No centro da abordagem está a prioridade dada à lógica de apropriação dos espaços já constituidos, articulada com a análise em termos de estrutura social. Daqui resulta a importância do debate das seguintes questões: a análise da cidade como uma entidade social e espacial especifica, sujeta a mudanças constantes na apropriação de espaços estratégicos e à procura de uma nova matriz de composição urbana, o confronto de modelos culturais que orientam tanto a tradição e a continuidade como o conflito e a mudança, as continuidades ou descontinuidades e ropturas do projecto e do controlo colectivo da comunidade consensual e do projecto individual de uma sociedade fragmentada pelas estratificações sociais e orientada pelo poder de opção e pela criatividade individual.”

A. Custódio Gonçalves in A Cidade: rumo a uma nova definição (Jean Rémy & Liliane Voyé)


Começemos o debate com uma notícia extraida do Diário de Moçambique (03/10/2007):

«Agastado com vendedores de Matendene: Comiche exorta munícipes a terem hábitos urbanos
O presidente do município de Maputo, Eneas Comiche, exortou aos munícipes no sentido de terem hábitos que vão de acordo com a cultura urbana.
O edil, que falava recentemente aos moradores de Matendene, mostrou-se agastado com a atitude dos vendedores locais por abandonarem as bancas no interior do mercado, para se instalarem fora, alegadamente em busca de movimento de clientes.
Mais de metade das 576 bancas do ercado de Matendene, construido há dois anos, está sem ninguém. Os seus ocupantes foram desaparecendo a pouco e pouco, fixando-se nas imediacões deste, facto que prejudica os que continuam a exercer a sua actividade de acordo com as normas municipais.
“Temos que saber valorizar aquilo que são as nossas conquistas. Vender em locais impróprios dá um ar muito feio. Não é assim que deve ser feito o nosso comércio”, apelou.
Na óptica do edil, a forma de valorizar os empreendimentos seria os comerciantes ocuparem as bancas dentro do mercado, pois foram concebidas para isso.
“Temos espaços no interior, mas há informações segundo as quais as bancas estão vazias. Os vendedores estão na porta para apanhar o primeiro cliente. Isso está errado” ─ vincou.
De acordo com Comiche, os munícipes é que devem contribuir para a correcção deste mal que ofusca de alguma forma a imagem do município.
Numa das ocasiões que o Diário de Moçambique entrevistou os comerciantes que otaram por fazer o negócio fora do mercado, alguns alegaram que no interior do mercado, vendiam muito pouco. Outros disseram-nos que ainda não lhes tinham sido atribuidas as bancas.
Por sua vez, a comissão dos vendedores disse que todos os que praticavam o comércio fora, tinham lugares no interior do estabelecimento, mas que preferem ficar naquele lugar numa concorrência desleal em relação aos outros quanto a posse de clientes.
O mercado Municipal de Matendene foi construido em 2004 e inaugurado em Junho de 2005, pelo presidente da República, Armando Guebuza.»




Lendo a notícia acima, podemos levantar discussões à vários níveis e com rumos diversificados. Podiamos or exemplo discutir se o cerne da questão são os comerciantes que preferem vender fora do mercado ou se são os consumidores que perferem comprar fora do mercado?
Eu darei um outro rumo a discussão. Vamos discutir “os hábitos e cultura urbana.” Ao ler o texto fiquei me questionando sobre o que o presidente do Município de Maputo considera de cultura urbana, ou melhor, o que o edil considera de falta de cultura urbana.
Será falta de cultura urbana o abandono de bancas nos interiores dos mercados para se intalar nas imediações dos mesmos? Será falta de cultura urbana o facto de os vendedores procurarem vender mais seus produtos abocanhando os clientes antes deste entrarem nos mercados? Ou é falta de cultura urbana “prejudicar” quem exerce suas actividades de acordo com as normas municipais?
O que é mesmo hábito ou cultura urbana?
Tomei a iniciativa de discutir o conceito de cultura urbana porque é muito comum fazermos uma salada quando se trata dos conceitos campo, cidade, rural e urbano.


Continue de olho que não fica por aqui

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

7+2=9


A Primeira-Ministra, Luísa Diogo, anunciou na Zambézia que a partir do próximo ano o Governo vais disponibilizar dois milhões de meticais para financiar programas de desenvolvimento local. O montante vai ser afectado às administrações distritais.
Fazendo minhas contas com os dedinhos da mão, 7+2=9. E os distritos passam assim a contar com “nove paus.” Os distritos vão receber mais dinheiro apesar de ainda andarem meio atordoados com os “sete paus” que já tinham. Há distritos que ainda não conseguiram fazer uso e aproveitamento racional da “mola”. Mesmo assim, vem ai mais dinheiro.
E vejam só, segundo a primeira-ministra, esta “mola” servirá para financiar programas de desenvolvimento local. E os “sete paus” eram para que fim? Sempre pensei que fossem para ser usado em programas de desenvolvimento local.
E assim os distritos somam e seguem.


Estou de olho…

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Sobre a finalidade da leitura


Apesar de ter marcado a humanidade não pelos melhores motivos, Adolf Hitler é uma figura incontornável da história e que dispensa apresentação. Hitler escreveu um livro entitulado Mein Kampf (Minha Luta), que é mais a sua biografia. Ao ler a obra, deparei com um treçho interessante sobre o que Hitler pensava da leitura. Leiam-no sem preconceitos:



“Sob o nome de leitura, concebo coisa muito diferente do que pensa a grande maioria dos chamados intelectuais.
Conheço indivíduos que lêem muitíssimo, livro por livro letra por letra, e que, no entanto, não podem ser apontados como "lidos". Eles possuem uma multidão de "conhecimentos", mas o seu cérebro não consegue executar uma distribuição e um registro do material adquirido. Falta-lhes a arte de separar, no livro, o que lhes é de valor e o que é inútil, conservar para sempre de memória o que lhes interessa e, se possível, passar por cima, desprezar o que não lhes traz vantagens, em qualquer hipótese não conservar consigo esse peso sem finalidade. A leitura não deve ser vista como finalidade, mas sim como meio para alcançar uma finalidade. Em primeiro lugar, a leitura deve auxiliar a formação do espírito, a despertar as disposições intelectuais e inclinações de cada um. Em seguida, deve fornecer o instrumento, o material de que cada um tem necessidade na sua profissão, tanto para o simples ganha-pão como para a satisfação de mais elevados desígnios. Em segundo lugar, deve proporcionar uma idéia de conjunto do mundo. Em ambos os casos, é, porem, necessário que o conteúdo de qualquer leitura não seja confiado à guarda da memória na ordem de sucessão dos livros, mas como pequenos mosaicos que, no quadro de conjunto, tomem o seu lugar na posição que lhes é destinada, assim auxiliando a formar este quadro no cérebro do leitor. De outra maneira, resulta um bric-á-brac de matérias aprendidas de cor, inteiramente inúteis, que transformam o seu infeliz possuidor em um presunçoso, seriamente convencido de ser um homem instruído, de entender alguma coisa da vida, de possuir cultura, ao passo que a verdade é que, a cada acréscimo dessa sorte de conhecimentos, mais se afasta do mundo, até que acaba em um sanatório ou, como "político", em um parlamento.
Nunca um cérebro assim formado conseguirá, da confusão de sua "ciência", retirar o que é apropriado às exigências de determinado momento, pois seu lastro espiritual está arranjado não na ordem natural da vida mas na ordem de sucessão dos livros, como os leu e pela maneira por que amontoou os assuntos no cérebro. Quando as exigências da vida diária dele reclamam o justo emprego do que outrora aprendeu então precisará mencionar os livros e o número das páginas e, pobre infeliz, nunca encontrará exatamente o que procura.
Nas horas críticas, esses "sábios", quando se vêem na dolorosa contingência de pesquisar casos análogos para aplicar às circunstâncias, só descobrem receitas falsas. Não fosse assim e não se poderiam conceber os actos políticos dos nossos sábios heróis do Governo que ocupam as mais elevadas posições, a menos que a gente se decidisse a aceitar as suas soluções não como conseqüências de disposições intelectuais patológicas, mas como infâmias e trapaçarias.
Quem possui, porém, a arte da boa leitura, ao ler qualquer livro, revista ou brochura, dirigirá sua atenção para tudo o que, no seu modo de ver, mereça ser conservado durante muito tempo, quer porque seja útil, quer porque seja de valor para a cultura geral. O que por esse meio se adquire encontra sua racional ligação no quadro sempre existente que a representação desta ou daquela coisa criou, e corrigindo ou reparando, realizará a justeza ou a clareza do mesmo. Se qualquer problema da vida se apresenta para exame ou contestação, a memória, por esta arte de ler, poderá recorrer ao modelo do quadro de percepção já existente, e por ele todas as contribuições coligidas durante dezenas de anos e que dizem respeito a esse problema são submetidas a uma prova racional e ao nosso exame, até que a questão seja esclarecida ou respondida.
Só assim a leitura tem sentido e finalidade.”

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Governo quer instalar centro multimédia em cada distrito


“O ministério da Ciência e Tecnologia têm como desafio para os próximos tempos, instalar pelo menos um centro multimédia comunitário (CMC) em cada um dos distritos do país. Os centros multimédias são locais onde as comunidades que vivem em zonas rurais podem ter contacto directo com as novas tecnologias de informação e comunicação, neste caso concreto meios informáticos com acesso aos serviços de internet e estações comunitárias de radiodifusão.”

in Jornal Diário de Moçambique(24/09/2007)

Até já estou vendo o cenário. Grandes cerimónias de inauguração, com fitas vermelhas para cortar. Com membros do governo fazendo-se representar pelos seus mandatários (governadores, administradores, directores provinciais, etc); os curandeiros convocados para afugentar os espíritos malignos do local (não vão estes espíritos introduzir vírus nos computadores); discursos de conteúdo que já conhecemos porque ouvimos os mesmos em todas ianugurações, é um discurso pré fabricado, e vai mudando apenas o nome da obra a inaugurar e a data em que será lido; e por fim, o grosso da população do lado de fora da cerimónia aplaudindo sem saber bem porquê.

Pois, parece que este governo não aprende. Sempre metendo os pés pelas mãos. Resta saber se intencionalmente ou não. Mas não sei que nome damos a quem comete mais de duas vezes o mesmo erro. Como o governo sabe que a população dos distritos precisam agora de centros multimédias? Ou por outra, eles pediram tais centros?
Lembro-me de ter já escrito sobre uma ascultação que o governo distrital de buzi estava levando a cabo com vista a organização das festas do aniversário da vila, cujo artigo pode ser lido aqui.

Este caso dos centros multimédias é um desses em que as ascultações seriam de uma utilidade impar.
Não tenho nada contra instalação de centros desses nos distritos, nem penso que a população dos distritos não tenham direito ao acesso às novas tecnologias de informação. Apenas ocorreu-me o conceito de necessidades prioritárias. Penso que é preciso primeiro identificar necessidades básicas para as populações. Satisfeitas essas necessidades, novas surgirão e assim sucessivamente, até chegarmos aos centros multimédias.
Ainda não andei em todos distritos mas não preciso ser mágico para saber que em muito deles há necessidades que vão muito além de um centro multimédia. Além de que em muitos desses distritos nem condições para instalar tais centros existe. Falo de condições como energia eléctrica por exemplo. O que provavelmente irá acontecer em muitos desses centros é ter o equipamento coberto de poeira por falta de uso porque não há energia para alimentar as máquinas.
Se a ideia do governo é colocar o distrito em contacto com o mundo, porque não começar com reabilitação das picadas que ligam os distritos entre si e às capitais provinciais? Penso que se o governo se quiser mostrar serviço deve fazer muito mais que isso. Deve acima de tudo saber identificar prioridades.

Estou de Olho...

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ivo Garrido muda de táctica

O ministro da saúde Ivo Garrido decidiu alterar seu modus operandis. Se antes as visitas relâmpagos às unidades hospitalares eram feitas no período nocturno, na sua última visita surpreendeu a todos (excepto os jornalistas, claro!) com visitas surpresas no período da manhã.
Um dos objectivos da sua visita pela manhã era fiscalizar a pontualidade dos funcionário das unidades hospitalares.
Ivo Garrido constatou que há muitos funcionários que não são pontuais e estes devem ser penalizados como regem os estatutos dos funcionários do Estado.

Desafio os jornalistas, que com muito afinco e pontualidade fazem a comitiva de Ivo Garrido nas suas visitas surpresas, para que façam também um teste. Que tal se fizerem umas visitas relâmpagos pela manhã aos ministérios e direcções provinciais para verificarem se os nossos dirigentes (ministros e directores) são exemplo de pontualidade? E se por acaso constatarem alguns prevaricadores, procurem saber se serão (ou se alguma vez foram) tomadas medidas de acordo com os estatutos dos funcionários do Estado.

Estou de olho...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Entre inquéritos e demissões

Segundo constatações preliminares da inspecção do trabalho de Sofala, o desabamento há dias do silo de cimento para a produção de betão armado para a construção em curso da ponte sobre o rio Zambeze, ligando Caia e Chimuara, deveu-se ao facto de a estrutura de base não ter suportado um peso de 150 toneladas de cimento que estava sendo processado. Como resultado morreram dois operários, além de danos materiais.
O director provincial de Trabalho em Sofala afirmou que “ficamos com a impressão de que os tubos são ocos, por isso, não suportaram o peso das 150 toneladas de cimento, contrariamente aos que apoiam os outros três silos existentes no local e achamos que a entidade patronal devia estar atenta a esse aspecto.”O director provincial de Trabalho disse ainda que o seu sector aguarda pelos resultados de equipa especializada na matéria (Obras Públicas e Habitação), que trabalha para determinar as vredadeiras causas que originaram o desabamento do silo.

Eu pergunto: o que acontecerá depois de apresentados os resultados pela equipa especializda? Alguem será responsabilizado por isso? Alguem pagará por isso? E se não se encontrarem os responsáveis? Alguém se vai demitir?
Ou ficará como sempre: “foi um acidente e acidentes acontecem.” E mais uma vez a culpa morrerá solteira?

Enquanto isso, não muito distante alguém foi exemplar. Lucas Renço, administrador do distrito de Caia pediu cessão de funções ao governador provincial de Sofala. Certos circulos locais associam o facto a uma disputa de regulado mal gerida. em Caia, os régulos Sacatucua e Gumançanze têm estado em conflito, reclamando cada um o direito de exerce autoridade na mesma região, chegando a resultar em violência física.
Só espero que a disciplina partidária não seja para aqui chamada. É que o homem e correr ainda riscos de levar um grande puxão de orelhas pela iniciativa de bater com a porta. Ou a demissão está associada a febres de demissões que anda ai pelos distritos e que tem atacado administradores e secretários permanentes?

Estou de olhos nos próximos capítulos

Ivo Garrido volta a carga

O ministro da saúde Ivo Garrido fez terça-feira visitas nocturnas a três unidades hospitalares. Foi mais uma daquelas incursões que os jornalistas apelidam de “visitas relâmpagos”, por serem supostamente visitas surpresas. Cá por mim, pela encenação que é feita em torno das visitas, de surpresa elas não tem nada. Mas isso é um outro assunto que talvez me lembre de discuti-lo. Quem sabe no relâmpago da próxima tempestade, quero dizer, quem sabe na próxima visita. Mas não é isso que me fez escrever.
No final da visita, o ministro disse estar satisfeito com o que viu. Principalmente por não ter encontrado longas filas de pacientes esperando por atendimento, cenário diferente de à cerca de 1 ano, em que nos hospitais via-se um cenário de filas com mais de 200 pacientes. Para Ivo Garrido, estas mudanças estão relacionadas com a melhoria da qualidade do atendimento nos hospitais.

São conclusões tiradas desta forma que as ciências sociais devem rejeitar.
Quais as bases do ministro para afirmar que a qualidade do serviço melhorou? A simples ausência de filas não pode constituir única variável explicativa para a diminuição das nos hospitais. Outras razões ou hipóteses podem ser levantadas. Que tal se pensarmos que as filas diminuíram porque as pessoas deixaram de acreditar nos serviços de saúde prestados nos hospitais durante a noite? Mais. E que passaram recorrer aos serviços dos médicos tradicionais e daqueles que anunciam nos jornais que curam tudo? E se o tão propalado combate a pobreza absoluta estiver surtindo efeitos? Talvez o resultado não seria melhoria até no estado de saúde das pessoas dai menos pessoas nas filas dos hospitais? Tem mais. Que tal se pensarmos que devido à crescente onda de criminalidade, as pessoas tem medo de andar à noite, dai ir menos vezes ao hospital nesse período do dia! Alguém tem mais hipóteses para ajudar o ministro a reflectir melhor sobre o fenómeno?
Cuidado com as aparências. Duvidai e investigai senhor ministro. Duvidai e investigai.

Estou de olho...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Bem vestidos não somos pobres

O secretário-geral do partido Frelimo, Filipe Paúnde, enalteceu anteontem (15/09/2007), no distrito do Dondo, em Sofala, o papel e o esforço que a população daquele ponto do país tem vindo a desenvolver nos últimos anos, com vista ao combate à pobreza... explicou ainda em comício popular que durante a sua estada de pelo menos oito horas de tempo naquele ponto de Sofala, deu para notar que a população está engajada na erradicação da fome e miséria, apostando na agricultura e no desenvolvimento de vários projectos de geração de renda.
“Eu já fui administrador do Dondo e naquela altura não havia pessoas assim bem vestidas, mas hoje isto já acontece, graças ao vosso próprio esforço”─ explicou Paúnde.
in Jornal Diário de Moçambique (17/09/2007)

Interessante.
Numa passagem de cerca de oito horas de tempo o secretário-geral da Frelimo conseguiu ter uma ideia dos esforços da população para erradicação da fome e miséria.
Foi pelo facto de ter visto pessoas “bem vestidas” que chegou a esta conclusão?
Depois da leitura fiquei umas horitas (menos que oito horas de tempo) me questionando o que seria estar “bem vestido.” E de seguida onde (local) foram vistas estas pessoas? Aqui é um pouco o questionar se a amostra para afirmar que as pessoas andam bem vestidas, é representativa.
O governo distrital deve ter uma base de dados (será?) com informação sobre o distrito. E talvez até em menos de oito horas é possível ter a informação do distrito e em função dos dados disponíveis (se forem completos) chegar a conclusão se verifica-se ou não uma tendência para erradicação da miséria.
Será que foi falta de clareza na redacção da notícia?

O perigo para os próximos tempos


Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (I.I.E.E.) no seu relatório anual publicado no dia 12/09/2007, o terrorismo islâmico (particularmente a Al-Qaeda) e o aquecimento global, representam as principais ameaças com que o mundo será confrontado em 2008.

Depois de ler a notícia surgiram três questões que achei importante para reflexão.
1. O I.I.E.E. definiu terrorismo islâmico e aquecimento global como principais ameaças para o futuro. Eu penso que dentre outras esta faltando uma impossível de esconder. O fosso cada vez maior entre os ricos e pobres, isto é, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Apesar de se falar constantemente na distribuição equitativa da riqueza, a humanidade tem se mostrando incapaz de fazer esta repartição equitativa. Penso que nem preciso perder tempo escrevendo aquela ladainha que todos conhecemos de cor e salteado sobre as consequências nefastas e negativas dessa má distribuição da riqueza a nível mundial.

2. A segunda questão, e que poderá ser polémica porque acredito que muitos irão discordar comigo esta relacionada com a ideia do terrorismo islâmico (particularmente Al-Qaeda) como ameaça mundial para o futuro. Para o futuro de quem? Futuro dos Estados Unidos da América (E.U.A.) e meia dúzia de seus aliados? A não ser que o pensamento esteja organizado na lógica do silogismo:
E.U.A. e meia dúzia de seus aliados controlam o mundo e por isso se acham donos dele;
Terrorismo islâmico (Al-Qaeda)é uma ameaça constante aos E.U.A. e seus aliados (não esqueçamos, meia dúzia deles);
Logo, terrorismo islâmico é uma ameaça ao mundo.
Será?
Que eu saiba, cada vez que a Al-Qaeda e Osama Bin Laden aparecem nos órgãos de comunicação é para ameaçar os E.U.A. mesmo quando se referem ao ocidente acabam caindo sempre nos E.U.A.
Quem deve então pôr-se a paus?

3. Por fim, quando olho para as principais causas de ameaça no futuro, todas tem a particularidade de serem causadas pelo homem. É caso para dizermos que o homem é lobo do homem. E a reversão do quadro depende do próprio homem. Há vontade para tal? É outra discussão que já tem barbas brancas.

Estou de olho...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Auscultação pública


Com vista a colher sensibilidades e subsídios para as comemorações do 43º aniversário, o governo distrital deBuzi lançou uma auscultação plica, com encontros que decorrerão uma vez por semana.
As minhas antecipadas felicitações a vila de Buzi pelo seu aniversário. Esta de parabéns também o governo distrital de Buzi pela ideia de “auscultar”, de ouvir as “suas ovelhas”. E principalmente se a iniciativa é do próprio governo distrital. Canta-se aos quatro ventos a importância da descentralização na máquina governativa.

Que venham mais auscultações. Não apenas no distrito de Buzi mas em mais distritos deste vasto Moçambique. Mas não auscultações apenas sobre como deverão ser organizadas determinadas festas, quero ouvir falar também de auscultações sobre como devem ser gastos os famosos 7 milhões de meticais. Quero ouvir auscultações sobre as prioridades e necessidades da população local. Escola ou hospital? Palácios judiciais ou estradas e vias de acessos? Fontanários ou moageiras? Produção da jetrofa ou de algodão? E que tal se o governo auscultar ainda se a população local anda ou não satisfeita com o seu (governo) desempenho?

Estou de olho...

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ra, re, ri, ro, rruuuuaaa!!!!


Na África do Sul, o deputado da Aliança Democrática (AD) a maior força da oposição, Mike Waters, foi expulso do hemiciclo pela presidente Baleka Mbete, após ter submetido por escrito uma pergunta à ministra da saúde sobre factos relatados na imprensa. Waters perguntou à ministra se é verdade que em 1976 foi condenada por furto no Botswana, quando era superintendente de um hospital naquele país e consequentemente expulsa e proibida de entrar no país durante um período de 10 anos.

A avaliar pelos deputados que temos e pelo tipo de discussão que assistimos na 24 de Julho, adivinhem ao fim de cada sessão quantos deputados estariam presente se a presidente Mbete estivesse dirigindo o nosso hemiciclo e pautasse pela mesma postura?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vale a pena ler


Este é um texto longo para acompanhar o fim-de-semana que ai vem. Também ele longo. Gosto de chamar a estes fins-de-semana de XL (extra large). Estava eu feito rato de biblioteca, no meio de muitas obras fazendo umas pesquisas bibliográficas e encontrei este texto. Achei-o interessante publicar e transcrevo o texto na íntegra. Provavelmente muitos já leram. Para estes, ler mais uma vez não lhes vai provocar overdose. Para os que lêem pela primeira vez, disfrutem-no.

É um diálogo em que o objectivo é demonstrar que a quantidade não é suficiente para se ter razão. É uma oposição as teses segundo as quais, o povo, não precisa ter razão, basta estar em superioridade numérica.

“─ Diz-me, Péricles, poderias ensinar-me o que é a lei?
─ Evidentemente ─ responde Péricles.
─ Em nome dos deuses, ensina-me. Ouço gabar certas pessoas por observarem religiosamente as leis e acho que ninguém pode merecer esse elogio se não souber o que é uma lei.
─ Desejas, Alcibíades, uma coisa muito fácil, se queres saber o que é uma lei. Chama-se assim a toda a deliberação em virtude da qual o povo reunido em assembleia decreta o que se deve fazer ou não fazer.
─ E o que o povo ordena que se faça, é o bem ou o mal?
─ Ora, jovem, é o bem, certamente ─ responde Péricles. ─ Queres que o povo ordene o mal? ─ E aqui transparece o “optimismo democrático”, de que a presunção do bom juízo do povo é um elemento fundamental.
Alcibíades não responde directamente e desencadeia um ataque mais subtil, onde brilham os seus talentos de dialéctico instruído na escola de Sócrates:
─ Mas se não for o povo, se for um pequeno número de cidadãos, como na oligarquia, a reunir-se e a prescrever o que se deve fazer, como se chama a isso?
─ Desde que a porção de cidadãos que governa ordene alguma coisa, é uma lei ─ observa Péricles.
─ Mas se um tirano usurpa o poder e prescreve ao povo o que este deve fazer, ainda é uma lei? ─ Prossegue Alcibíades.
─ Sim, porque provém daquele que manda.
Péricles formula assim a concepção do positivismo jurídico: a identificação da lei com a ordem que emana regularmente do poder estabelecido, desde que o seu exercício seja conforme à constituição. Não tem cabimento apreciar o conteúdo interno do imperativo; só há que examinar se é imposto regularmente pelas autoridades instituídas.
Alimentado de filosofia, Alcibíades volta à carga:
─ Mas então, quando é que se trata de violência e subversão das leis? Não é quando o poderoso, desprezando a persuasão, obriga o fraco a fazer o que ele quer?
Deste modo, Alcibíades propõe um critério novo: a lei só terá validade no caso de aqueles a quem obriga a aceitarem por meio de persuasão. A partir do momento em que a regra lhes for imposta, haverá violência e falta aos princípios das leis. A ideia é extremamente importante e será retomada por Platão, com vista a distinguir entre a acção política, imperativo exercido por meio de persuasão, e a ordem imposta, que não será digna desse nome.
Péricles assente: ─ Acho que sim.
Alcibíades aproveita: então, o tirano que obriga o cidadão a seguir os seus caprichos é inimigo das leis?
Desta vez, Péricles bate em retirada:
─ Sim, enganei-me ao chamar leis às ordens de um tirano que não emprega a persuasão.
A partir desta altura, Alcibíades recupera definitivamente a supremacia e, do tirano, retorna à oligarquia:
─ Mas quando um pequeno número de cidadãos, revestidos do poder soberano, impõe a sua vontade à multidão sem obter consentimento, chamamos a isso violência ou não?
Nova aprovação de Péricles:
─ Venha a ordem de onde vier, seja escrita ou não, desde que se baseie apenas na força, parece-me mais um acto de violência do que uma lei.
Assim, por meio da dialéctica do seu jovem pupilo, Péricles é obrigado a admitir, sucessivamente, que a introdução de coerção vicia a lei, que essa coerção é habitual no tirano e nos oligarcas, mas que também se pode encontrar na multidão em democracia. Contudo, Péricles minimiza a sua derrota reconduzindo o debate a uma controvérsia de escola:
─ Quando tínhamos a tua idade ─ diz a Alcibíades ─ éramos muito entendidos nesses problemas. Gostávamos de subtilizar, de sofisticar, como tu fazes agora.
E Alcibíades conclui com um cumprimento que não é isento de ironia:
─ Péricles, como eu te ouvia nesse tempo em que estavas acima de ti próprio!”

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

S.O.S. Ananás a solta


Os distritos de Chibabava e Cheringoma na provincia de Sofala registam uma produção anual de ananás acima de 18 toneladas. Esse ananás é produzido na sua maioria por camposeses da região. Dessa produção, uma arte ínfima é comercializada no mercado informal, principalmente aos automobilistas ao longo da estrada nacional número 1. O que sobra, que constitui a maior parte, deteriora-se. Este cenário já dura uns anitos.

Eu ando enganado, ou o nosso governo anda cantando aos quatro ventos que a terra é a maior riqueza que temos, incentivando deste modo os camponeses a trabalhar a terra? O mesmo governo que não se farta de lembrar ao seu rebanho o lema de fazer o distrito pólo de desenvolvimento.

Imaginemos agora que cada província decida acatar ao governo e na sua máxima força meter a enxada na terra e usufruir das suas potencialidades agricolas? O que se faria com toda produção que da terra fosse retirada? Imaginem.
Não pretendo que seja o governo directamente a escoar ou a montar industrias de transformação dessa materia prima (se bem que era o ideal). Mas cabe ao governo criar condições para maximização dessa produção. É tarefa do governo criar condições de trabalho. Os acessos aos distritos estão criados? As infra-estruturas estão montadas? O governo se faz presente como mediador desse pólo de desenvolvimento que é o distrito?
O ananás esta ai. E agora? O governo anda distraido ou esquecido? Impávido e sereno vai assistindo o ananás deteriorar-se em quantidades industriais. A quem compete convencer o investidor privado (nacional ou não) a fazer o devido uso desse ananás uma vez que os produtores mostram-se incapacitados para tal?

Quero iniciativa do meu governo. Quero mais acção e menos discurso

Estou de olho.

Em Sofala: governo promete atingir meta de 145 salas previstas para 2007


Isto apesar de o director provincial de Educação e Cultura em Sofala, Alves Cangana em entrevista ao Diário de Moçambique (05/09/2007) afirmar: “não posso estimar o número, mas ainda temos, de facto, crianças que estudam em condições precárias, mas felizmente a situação reduziu bastante porque, por um lado, temos a construção acelerada de salas de aulas que iniciou em 2005, e por outro, o engajamento das próprias comunidades que, na medida do possível, nos têm ajudado na construção de infra-estruturas escolares através de material local.”


Contraditório. Como o governo sabe qual o número exacto de salas de aulas se nem sabe qual o número de estudantes que necessitam delas?
São os dirigentes que temos.
Deixo os comentários à vosso critério.

Estou de olho...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Governo constrói palácios judiciais

Visando flexibilizar a tramitação processual, governo constrói palácios judiciais em Nampula, Inhambane e Sofala.
De acordo com o coordenador nacional de apoio e acesso a justiça ao cidadão, Eduardo Muçanhane, “o projecto de construção de palácios de justiça visa acabar com bichas de processos judiciais nos tribunais e garantir que os cidadãos vejam os seus casos resolvidos em tempo útil.” Ainda segundo Muçanhane, “pretende-se que as instalações ofereçam todo o tipo de serviço relacionado com a justiça tendo dentro destes palácios, o tribunal, a polícia, procuradoria, polícia de investigação criminal, IPAZ, para além de outros serviços. É uma estratégia que visa garantir que o cidadão ao levar seu caso ao tribunal encontre dentro das instalações todos os órgãos prontos para o servir sem grandes deslocações a procura deste ou daquele sector para questões de tramitação de processos judiciários.”

O que nos faz lembrar? Os famosos balcões únicos de atendimento. Falou-se tanto neles e na sua vantagem ao concentrar todos serviços num mesmo edifício. Ao fim destes anos estes balcões estão conseguindo responder as necessidades para os quais foram criados? Nem em sombras. Tanto que na cidade da Beira estão em vias de extinção. Transformou-se num balcão apenas para recolher informação.

Com esta medida, o governo pretende passar a mensagem que a culpa da morosidade dos processos é dos edifícios?
Tenho imensas dúvidas que com estes palácios alguma coisa mude. Não quero ser pessimista, apenas realista. O que muitas vezes os nossos governantes não percebem é que não se trata da localização dos serviços no espaço físico, mas sim das peculiaridades da própria organização do trabalho. Por mais imponentes e modernos forem os palácios judiciais, se os vários serviços não estarem organizados e coordenados, continuará tudo na mesma. É outra vez aquela máxima do rolex no pulso mas sempre atrasado ao encontro.

Os governantes devem parar de sacudir água do capote e procurar bodes expiatórios para as suas inacções. Vezes sem conta ouvimos frases do tipo “falhou por falta de verbas/dinheiro”, “faltou transporte”, “trabalhamos sem condições”, etc. Sei que a inexistência de meios constitui um factor determinante para abordagem e possível solução de problemas. Mas ficaria feliz se ouvisse com mais frequência afirmações do tipo: “dada a inexistência de meios, procuramos/tentamos resolver o problema de forma X e Z.” Quero dizer que os nossos governantes devem mostrar-se em condições de com os meios disponíveis encontrar e apresentar possíveis soluções.

Estou vivo para ver esses palácios em funcionamento

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A estabilidade política no país depende dum pacto


Este artigo vem na sequência de uma noticia publicada no jornal O País On-line de 31/08/2007 e que pode ser lida aqui. Só hoje comento a notícia porque a minha Internet anda tão lenta que desde que fiz o click na notícia no dia da sua publicação, só hoje abriu a página (Brincadeira. Andei distante da “civilização” por uns dias).
Confesso que a abordagem será um pouco apalpando o escuro uma vez que a notícia não é clara. Não sei se porque o próprio discurso do líder do maior partido da oposição fez um discurso pouco claro, ou porque na redacção da notícia algo foi omitido.
As maiores zonas de penumbra na notícia são em relacção ao “pacto pertinente” que se fala na notícia- Fiquei sem saber qual a natureza desse pacto; e não percebi qual de facto é a actual situação que deve ser revertida. Qual esse estado das coisas!
Independentemente dessas dúvidas, depois de ler a notícia ficou martelando na minha cabeça uma pergunta que conduziu a uma série de outras, outras e mais outras. O que faz o líder do maior partido da oposição pensar que um pacto com o seu “inimigo de estimação” irá reverter a tal actual situação? Será que o maior partido da oposição tem uma carta na manga ou uma varinha resolvedora de problemas que só sairá se haver pacto?
Percebo muito pouco de jogadas políticas, mas parece que o maior partido da oposição tem tido dificuldades de aproveitar para seu benefício quando o vento sopra a seu favor. Se de facto tem uma carta ou varinha resolvadora que possa mudar a tal actual situação (que ainda não sei qual, mas que suponho ser negativa), porque não aproveitar o parlamento para ganhar pontos. Em democracia que outro espaço melhor que este para a oposição ao governo expor suas ideias? Apesar de eu pessoalmente ter dúvidas que num parlamento como nosso consiga fazer passar suas ideias. Mas de qualquer das formas tem este espaço onde pode dar a conhecer seu trabalho para reverter o actual estado das coisas.
Além disso, o próprio líder do maior partido da oposição como membro do conselho de Estado pode expor suas ideias de o que fazer e como agir para reverter a situação. As suas ideias podem não passar mas uns pontos pode somar. E de ponto a ponto quem sabe se um dias a sorte não começa cantando uma serenata a sua janela!
Em todo caso, já acho positivo admitir que é possível partidos em posições diferentes trabalhar em conjunto para o bem comum. Quem sabe assim, seus seguidores e simpatizantes passam a pensar o mesmo e a partir dai reduzem as querelas partidárias nos locais de trabalho e por ai fora por “dá cá esta palha.”

Onde isto vai dar? Estou de olho.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Um (ex) procurador incompreendido

“Em qualquer parte nenhum procurador é compreendido… um procurador passa muito mal… trabalhamos muito e apenas o povo sabe reconhecer esse trabalho, o resto…”

Foi esta mensagem que o (ex) procurador da república Joaquim Madeira deixou nas câmaras da televisão na hora do adeus.

Dignissimo (ex) procurador da Repúlica, de momento não tenho nenhuma razão para concordar com seu discurso. Digo de momento, porque se conseguir clarificar alguns pontos do que disse talvez mude de ideias. Posso não ter percebido a mensagem que tentou passar. E ficaria satisfeito se clarificasse alguns pontos nas palavras por si proferidas.
Como define muito trabalho ou melhor, quais os indicadores usou para considerar que trabalhou muito? Quando assumiu o cargo, o que traçou como meta? E na saida atingiu-as? Como chegou a conclusão que o “povo” reconhece seu trabalho?
E o povo? A quem se refere? Povo são os que estão a seu favor? Povo não é o conjunto de todos moçambicanos independentemente de concordar ou discordar com algo. Não se é mais ou menos povo por discordar com um governo ou com determinada forma de exercício de uma actividade. Leva-me assim a pensar que partilha aquela ideia daqueles que não conseguem ver a sociedade de uma forma que não seja binária: “ou esta connosco ou é contra nós”. Ou reconhece que trabalha ou não é povo. E esse resto? É constituido pelo não povo? Quem faz parte desse grupo?
O que significa para si passar muito mal? Ser alvo de muitas criticas durante o seu mandato, levam-no a passar mal? Discordar em muitos casos com a sua forma de gerir determinados casos, levam-no a passar mal? Exigir explicações e clareza para determinados processos, levam-no a passar mal? E como é mesmo isso de passar mal?
Ajude-me a perceber essas inquietações, quem sabe não farei parte do povo, aquele que o percebe.

Estarei aguardando de olhos bem abertos

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mais uma tentativa frustrada de assalto a banco?


No dia 28 de Agosto manha para quem andou pelas imediações do Standard Bank (passe a publicidade) na cidade da Beira, deve ter deparado com a força policial na sua máxima força. O aparato incluia a força de segurança que presta serviços ao banco. A presença da policia deveu-se a uma denuncia anónima segundo a qual a instituição bancária estava na eminéncia de ser assaltada. A que tudo indica quando a policia chegou ao local os supostos suspeitos já haviam colocado o pé na tábua, havia evaporado sem deixar rastos.
A onda (ou será moda?) de assalto a bancos já escalou a cidade da Beira? Tratar-se-à de cobertura nacional dos assaltos a bancos?

Continuo de olho...

Porquê artesãos?

O jornal diário de Moçambique que saiu à rua na quarta-feira, dia 29 de Agosto de 2007 apresenta nas páginas centrais uma notícia em jeito de reportagem que não estou conseguindo encaixar no meu conceito de racionalidade e bom senso.
Porque a reportagem é extensa apenas irei reproduzir a primeira parte, que é a que interessa de momento:
Artesãos serão envolvidos na reabilitação e manutenção de fontes de água no país (anuncia o ministro das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias)
Operadores artesanais passarão, a partir do próximo ano, a envolver-se na reabilitação e manutenção de fontes de abastecimento de água nas zonas rurais do país. O facto recentemente anunciado pelo ministro das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias, no decurso do 15º Conselho Coordenador do organismo que dirige, realizado na região de Cafumpe, no distrito de Gondola, província de Manica.
A medida da participação de artesãos na manutenção de poços e furos de água foi tomada no âmbito da descentralização de fundos, os quais passarão a ser geridos pelas direcções provinciais deste sector, mediante os programas de actividades a serem aprovados pelos conselhos consultivos distritais.
Para o sucesso daquela decisão será reforçada a capacidade de gestão financeira das direcções provinciais das Obras Públicas e Habitação, por forma a permitir uma correcta aplicação do dinheiro disponível.
“Tendo em conta que o alcança de maiores níveis de cobertura no abastecimento de água às populações vivendo nas zonas rurais depende de um esforço, quer dos utentes de poços e furos, quer do governo, decidimos que os programas de manutenção e reabilitação passam a ser implementados ao nível distrital com a participação activa de entidades privadas locais, incluindo artesãos devidamente organizados” ─ Disse Felício Zacarias.
“Na prática isto quer dizer que a partir do próximo ano de 2008, os distritos passarão a dispor de um fundo de execução distrital especificamente destinado à água e saneamento rural, com a excepção dos fundos destinados a grandes projectos, com financiamento externo” explicou.
O ministro das Obras Públicas e Habitação salientou que a descentralização de fundos para os distritos constitui uma grande aposta do sector, com vista a permitir que os artesãos melhorem suas condições de vida, o que acabará influenciando positivamente o desenvolvimento das comunidades em geral.
“Devo dizer que o abastecimento de água e o saneamento têm continuado a merecer a nossa grande atenção, em prol da melhoria das condições de vida da nossa população” ─ frisou.
Por seu turno o director nacional de Águas, Julião Alferes disse que foi decidido que 25% dos fundos disponibilizados através do Orçamento Geral de Estado e das organizações não-governamentais destinar-se-ão aos distritos, para garantir a manutenção das fontes de abastecimento do precioso líquido.
“Esta medida é para permitir o desenvolvimento dos artesãos” ─ afirmou Alferes, sem, no entanto, mencionar os montantes a serem canalizados para os distritos, argumentando que o que acontece é que não existe uma verba estática, pois há dinheiro que entra através de organizações não-governamentais, que por exemplo, anunciam valores monetários diferentes, consoante sua disponibilidade.


Fico por aqui na apresentação da reportagem. As noticias restantes são sobre sistemas e barragens e ainda água para as zonas urbanas.

Terminei a leitura da reportagem e desde então uma pergunta ficou martelando os meus miolos: porquê artesãos? Esta pergunta resulta de uma informação pouco clara na reportagem.
Talvez porque eu perceba muito pouco de construção, reabilitação e manutenção de fontes de água, não consegui perceber porquê foram estes (artesãos) os escolhidos se envolverem em tais actividades. Seria ainda importante que fosse esclarecido qual o seu grau de envolvimento e participação. Estarão envolvidos na gestão? Directamente(mão na massa) na reabilitação e manutenção? O envolvimento será mediante formação ou capacitação para a actividade que pretendem usa-los? Ou irão usar apenas suas técnicas? Parecem perguntas sem sentido? E se eu questionar se estarão envolvidos na qualidade de artesãos ou de cidadãos pertencentes a comunidade? A reportagem parece aborda-los na qualidade de artesãos. E se assim for, Qual a mais valia de serem artesãos envolvidos e não pescadores ou professores? E mais. Diz-se ainda na reportagem que o envolvimento desses artesãos ira permitir o seu desenvolvimento. Como? E se eu questionar o que quer dizer desenvolvimento dos artesãos, ai não saiamos mais daqui.
Penso que para determinadas actividades, é importante que quem as realize tenha o famoso saber-fazer e que este pode ser adquirido de variadas maneiras. Enquanto escrevo estas linhas lembrei-me daquele ditado popular que diz “cada macaco no seu galho”E eu pergunto, em Moçambique quantos casos identificamos em que temos indivíduos sem conhecimentos nenhum sobre determinada matéria mas respondendo pela mesma? O resultado é o que se vê...

Estou de olho.....

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

As minhas pequenas interrogações?



Alguem ainda se lembra da jetrofa?
Será que eu ando distraido e desinformado?
Nunca mais ouvi falar nela. De repente parece que ficaram todos mudos.
Foi-se a euforia ou o ex-ministro da agricultura quando foi levou consigo a pasta que continha o dossier?
E aqueles que fizeram ou idealizaram mega-projectos de produção da jetrofa? Já sabem a quem entregar depois da colheita? O governo já criou condições de recepção e armazenamento? Se é que o governo sabe em que condições o produto deve ser armazenado?
Ou é já um projecto para esquecer? Ninguem mais disse nada. Ou melhor, nunca mais ouvi nada sobre o assunto.
Lembrei-me da jetrofa porque agora entramos no bio-diesel a base da copra. Mais uma euforia?

Eu continuo de olho...

Grande Hotel: descubra as semelhanças

domingo, 26 de agosto de 2007

“Que adianta termos no pulso um relógio da marca Rolex se chegamos sempre tarde!”

Esta frase não é invenção minha, e é para aqui chamada a propósito do cenário que se vive na capital do país. Policias e militares nas ruas, armados e espalhando postos de controlo pelas artérias da cidade onde vão revistando tudo e todos. Interpreto esta acção em duplo sentido: 1. a policia pretende mostrar aos munícipes que não esta de braços cruzados no que diz respeito ao combate a criminalidade; 2. Intimidar os próprios criminosos.
Mas cá por mim, mesmo que o exército se instale nas ruas na sua máxima força, mesmo que construam barricadas e trincheiras, mesmo que passem a usar canhões, bazookas granadas e sei lá mais que material bélico pesado, o problema que estão tentando resolver continuará por resolver. E o que prevejo para os próximos tempos é a policia aparecer com discurso que se reforçou com a compra de uns tantos veiculos automóveis, aumentando seu efectivo humano, fazendo novas nomeações, criando novas brigadas de combate ao crime (designação pomposa esta, hem!). E no final das contas tudo continuará na mesma, apesar de provavelmente aparecerem com aquelas estatísticas que conhecemos: “o número de crimes violentos baixou de Z para T, os assaltos com recurso a armas de fogo reduziu X% em relacção ao mesmo período do ano passado, etc,etc, etc.
Não vou aqui inventar a roda porque alguém se antecipou a mim e provavelmente já colheu os louros por isso. Não deve ser segredo nem novidade que o que a policia mais precisa é de mais qualidade e menos quantidade. A aposta deve ser na formação dos recursos humanos que dispõe. Não é preciso ser génios para perceber que desde que o Homem passou a viver em sociedade os comportamentos desviantes sempre existiram e provavelmente sempre existirão. O que vai variando é a o que vai sendo definido como comportamento desviante e a sua natureza. Quer isto dizer que as sociedades não são estáticas e a medida que se transformam a natureza do fenómeno crime (que é um comportamento desviante) também se transforma. É nisso que a nossa policia tinha que pensar mais. Enquanto a natureza do crime muda e o modus operandis dos criminosos vai se sofisticando, a policia continua na letargia e estática. Os anos passam e as mudanças que vemos são apenas substituição de pessoas. E o modus operandis? A policia deve também saber fazer um upgrade do seu modus operandis no combate ao crime.
Passaram anos e continuo vendo pelas ruas policias aos pares exigindo B.I. aos cidadãos. Até hoje não compreendi ate que ponto estas acções contribuem para o combate ao crime.
E a ACIPOL? Deveria ter um papel de destaque e mais interventivo funcionando como laboratório ou oficina onde se pesquisam e investigam formas eficazes e eficientes (qualidade) de lidar com o fenómeno crime e as suas variadas roupagens.
Num tabuleiro de xadrez, apesar de o nosso adversário ter peças feitas em ouro e ter a vantagem de estar em superioridade numerica, não lhe conferimos automaticamente a vitória. O triunfo é obtido pela estratégia que usamos.

Estou de olho...

sábado, 25 de agosto de 2007

Gente!!! Também me blogolizei

Estou colocando a disposição mais um espaço para discutir, debater e expor ideias ou sentimentos.Aqui há espaço para as coisas aparentemente mais banais do nosso quotidiano ou para as coisas ditas de importância macro ou “relevantes” para o país. O importante é não esquecermos que o grau de importância das coisas variam consoante a posição ocupada pelo actor social.
E dada a minha posição, particularmente a minha localização física (de momento estou residindo nas margens do rio chiveve, ou melhor, cidade da Beira), a minha vigilância vai centrar-se nos fenómenos que ocorram nas margens do rio Chiveve, não querendo com isso dizer que serão ignorados os fenómenos de outras paragens. Esta é uma vigilância alargada aos quatro cantos do mundo ou pelo menos até onde os meus binóculos alcançarem
Juntando-me a tantos outros espaços de discussão e debate estou fazendo fé ao ditado que diz que a união faz a força. Considero-me assim mais uma força. E quem sabe se um dia não conseguimos mover montanhas!!
Estou de olho...