terça-feira, 16 de outubro de 2007

Puxassaquismo: A cauda do chefe


Este texto é escrito a propósito das inúmera visitas que os nossos mais altos dirigentes (me refiro aos ministros, governadores e o próprio Presidente da república de Moçambique) efectuam, principalmente quando e deslocam para for a da capital do país (para as províncias) ou para os distritos.
Mas como exemplo, começemos por ler uma destas notícias:


«Na visita de Alberto Vaquina: Governo de Marromeu mostra desorganização
O governo de Marromeu deixou o governador de Sofala, Alberto Vaquina, bastante “transtornado”, ao mostrar claramente que não estava preparado para receber este dirigente e a sua comitiva, que integrava alguns directores provinciais e adinistradores dos distritos de Chibabava e Machanga, Anabela Santiago e Pita Jojó, respectivamente, durante a visita terminada anteontem.
Verificamos que houve algumas dificuldades de organização na própria visita aqui em Marromeu, cujas causas ainda não sabemos quais são e, naturalmente, com mais tempo em conversa com os quadros do distrito estaremos a perceber melhor quais são as falhas e em que o governo da província pôde contribuir para ajudar o governo do distrito a minimizar as falhas” ─ disse Vaquina.
A situação com que se deparou no distrito de Marromeu preocupa o Governo provincial de Sofala, tendo em conta que em ocasiões anteriores o Executivo distrital já mostrou que sabe organizar visitas do género, segundo afirmou Vaquina na conferência de imprensa qe marcou o fim da sua visita àquele ponto do país.
O que se constatou em Marromeu foi praticamente diferente de outros distritos escalados por Vaquina na sua recente digressão, nomeadamente Gorongosa, Marínguè, Chemba e Caia.
Seja como for, olhando para o programa do Governo, que são as grandes realizações, elas estão patentes no distrito de Marromeu, talvez nos falta um pouco mais de dinamismo, no sentido de galvanizar as populações em torno do trabalho que o Governo está realizar” ─ sublinhou.
O “Diário de Moçambique” observou que nos comícios orientados por Vaquina no regulado de Nhane e zona de Chueza, no distrito de Marromeu, as pessoas presentes podiam contar-se com os dedos da mão.
Questionado se a pouca afluência da população aos comícios terá sido por falta de organização, o governador de Sofala disse que “o que dissemos é que, olhando globalmente para esta visita, constatamos que há questões de organização que noutros momentos foram melhores”.
Contrariamente ao que acontecia nos outros distritos, em Marromeu, a reunião de balanço durou muito tempo porque estava a ser analisada pormenorizadamente a situação que ocorreu neste distrito.»
in Diário de Moçambique (15/10/2007)


Pena o governador ter sido muito evasivo no discurso. Ainda estou para entender que questões de organização são estas que falharam. O que o governador quis dizer com falhas e dificuldades de organização na visita?

Pretendo a partir daqui chamar a atenção para dois aspectos: as comitivas que acompanham os alto-dirigentes e os que os esperam para recepção.
Talvez por eu não estar por dentro do mecanismo de funcionamento da máquina governativa, esteja com muitas dúvidas, reticências e preocupação com a comitiva e a recepção. Será que há mesmo necessidade que se arme o teatro que temos assistido?
Não consigo perceber porque um governador quando visita um distrito tem de levar consigo quase todos directores provinciais, secretários e mais não sei quem!
Recentemente o Procurador Geral visitou Sofala e escalou alguns distritos da Província. Precisavam ver o teatro. Quase todos Juizes (pelo menos da cidade da Beira), seguiram o Procurador pelos distritos que escalou. Isto apesar de o rocurador já ter reunido com estes na cidade da Beira. E mais. Será que o Procurador a nível da província não se tem reunido com seus Juizes para saber como vai andando a sua casa? Será que Procurador a nível da província não pode em função da informação que dispõe (assumindo que se reune com seus Juizes) por o Procurador Geral a par da situação da província? A companhia apenas do Procurador provincial na ronda pelos distritos não seria suficiente?
Não consigo perceber qual a necessidade de o Procurador arrastar consigo uma comitiva muito grande! Falo do Procurador e Juizes como poderia falar do Governador e seus directores.
Ninguém pensa na factura a pagar para ter tamanha comitiva (cauda) consigo? As viatura (combustível), alimentação, hospedagem, enfim, as famosas ajudas de custo!
E o dinheiro para pagar tudo isto sai mesmo donde? Acho que nem preciso responder.

Além da cauda que o chefe arrasta consigo, para completar o teatro temos a recepção.
“Mobilizam-se” (entre aspas porque tenho minhas dúvidas que mobilizam. Aposto que obrigam) os estudantes a estarem na recepção e no comício do chefe, resultando muitas vezes na paralização das aulas; se for um dia laboral (segunda à sexta-feira) as instituições públicas funcionam a meio gás, talvez só lá fica o guarda de plantão para avisar a quem chega que foram todos receber o chefe; em alguns casos, chega-se ao extremo de reabilitar e mobilar uma casa para o chefe la passar umas horitas.
E donde sai a verba para todo este teatro? Também não preciso responder.

E no final das visitas o balanço é sempre positívo e o discurso é sempre aquele pré-fabricado que já conhecemos: “iamos ver como esta sendo implementado o plano quinquenal do governo, e chegamos conclusão que estamos no bom caminho, os planos estão sendo cumpridos”.

Mas a pobreza continua por combater, quando o chefe vai as queixas no terreno continuam as mesmas.
Se nós não fiscalizamos a gestão da nossa “mola”. (Sim! A “mola” é nossa) quem o fará? A comunidade internacional? Temos que começar a prestar mais atenção nas actividades do nosso Governo e cobrar as facturas pelos gastos que tem feito.
Temos que estar sempre de olho...

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