segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Governo quer instalar centro multimédia em cada distrito


“O ministério da Ciência e Tecnologia têm como desafio para os próximos tempos, instalar pelo menos um centro multimédia comunitário (CMC) em cada um dos distritos do país. Os centros multimédias são locais onde as comunidades que vivem em zonas rurais podem ter contacto directo com as novas tecnologias de informação e comunicação, neste caso concreto meios informáticos com acesso aos serviços de internet e estações comunitárias de radiodifusão.”

in Jornal Diário de Moçambique(24/09/2007)

Até já estou vendo o cenário. Grandes cerimónias de inauguração, com fitas vermelhas para cortar. Com membros do governo fazendo-se representar pelos seus mandatários (governadores, administradores, directores provinciais, etc); os curandeiros convocados para afugentar os espíritos malignos do local (não vão estes espíritos introduzir vírus nos computadores); discursos de conteúdo que já conhecemos porque ouvimos os mesmos em todas ianugurações, é um discurso pré fabricado, e vai mudando apenas o nome da obra a inaugurar e a data em que será lido; e por fim, o grosso da população do lado de fora da cerimónia aplaudindo sem saber bem porquê.

Pois, parece que este governo não aprende. Sempre metendo os pés pelas mãos. Resta saber se intencionalmente ou não. Mas não sei que nome damos a quem comete mais de duas vezes o mesmo erro. Como o governo sabe que a população dos distritos precisam agora de centros multimédias? Ou por outra, eles pediram tais centros?
Lembro-me de ter já escrito sobre uma ascultação que o governo distrital de buzi estava levando a cabo com vista a organização das festas do aniversário da vila, cujo artigo pode ser lido aqui.

Este caso dos centros multimédias é um desses em que as ascultações seriam de uma utilidade impar.
Não tenho nada contra instalação de centros desses nos distritos, nem penso que a população dos distritos não tenham direito ao acesso às novas tecnologias de informação. Apenas ocorreu-me o conceito de necessidades prioritárias. Penso que é preciso primeiro identificar necessidades básicas para as populações. Satisfeitas essas necessidades, novas surgirão e assim sucessivamente, até chegarmos aos centros multimédias.
Ainda não andei em todos distritos mas não preciso ser mágico para saber que em muito deles há necessidades que vão muito além de um centro multimédia. Além de que em muitos desses distritos nem condições para instalar tais centros existe. Falo de condições como energia eléctrica por exemplo. O que provavelmente irá acontecer em muitos desses centros é ter o equipamento coberto de poeira por falta de uso porque não há energia para alimentar as máquinas.
Se a ideia do governo é colocar o distrito em contacto com o mundo, porque não começar com reabilitação das picadas que ligam os distritos entre si e às capitais provinciais? Penso que se o governo se quiser mostrar serviço deve fazer muito mais que isso. Deve acima de tudo saber identificar prioridades.

Estou de Olho...

2 comentários:

Patricio Langa disse...

Oi. Elton.
“As botas de sete léguas”!
A tua preocupação é legítima.
Aí na Beira mesmo, se a memórias não me falha, montou-se uma sala de computadores numa escola para deficientes visuais. Os computadores ficaram um ano paralisados porque alguem se havia esquecido da senha (password)! Coisas de Moçambique! No entanto, Elton, não sou de opinião que devemos ter primeiro o burro, depois a bicicleta, a mota… até chegarmos ao avião. Desenvolvimento, se é que assim o podemos chamar, não segue uma linha teleologica pré-determinadas. Lembras-te das Etapas do Crescimento Económico de Rostow? (Ganhão)! Ou melhor das botas de sete léguas?

Elton B disse...

Patrício, partilho da sua opiniãoquando diz que desenvolvimento não é necessariamente teleológico e nem linear no sentido em que começamos cm o burro, de seguida a bicicleta, a mota o carro e por fim o avião. As etapas podem sim ser encurtadas.
Mas por outro lado, sou adepto sim que o processo de satisfação das necessidades e de identificação das prioridades deve ser teleológico. De que adianta termos avião se nem condições para mante-lo temos, se nem passageiros para usa-los temos, nem pistas para aterrar existem.
Eu posso do meu salário escolher um carro como meio de transporte e compra-lo. Ma ao fazer tenho que estar ciente dos gastos que dai resultarão (combustível, manutenção, etc). Senão o que acontecerá é ter um carro que passará mais tempo na garragem servindo de alimento para a ferrugem.

Mas claro, se há condições de começar com um carro e conseguir suportar os custos que dai resultam, porquê não começar com o carro?