quarta-feira, 5 de setembro de 2007

S.O.S. Ananás a solta


Os distritos de Chibabava e Cheringoma na provincia de Sofala registam uma produção anual de ananás acima de 18 toneladas. Esse ananás é produzido na sua maioria por camposeses da região. Dessa produção, uma arte ínfima é comercializada no mercado informal, principalmente aos automobilistas ao longo da estrada nacional número 1. O que sobra, que constitui a maior parte, deteriora-se. Este cenário já dura uns anitos.

Eu ando enganado, ou o nosso governo anda cantando aos quatro ventos que a terra é a maior riqueza que temos, incentivando deste modo os camponeses a trabalhar a terra? O mesmo governo que não se farta de lembrar ao seu rebanho o lema de fazer o distrito pólo de desenvolvimento.

Imaginemos agora que cada província decida acatar ao governo e na sua máxima força meter a enxada na terra e usufruir das suas potencialidades agricolas? O que se faria com toda produção que da terra fosse retirada? Imaginem.
Não pretendo que seja o governo directamente a escoar ou a montar industrias de transformação dessa materia prima (se bem que era o ideal). Mas cabe ao governo criar condições para maximização dessa produção. É tarefa do governo criar condições de trabalho. Os acessos aos distritos estão criados? As infra-estruturas estão montadas? O governo se faz presente como mediador desse pólo de desenvolvimento que é o distrito?
O ananás esta ai. E agora? O governo anda distraido ou esquecido? Impávido e sereno vai assistindo o ananás deteriorar-se em quantidades industriais. A quem compete convencer o investidor privado (nacional ou não) a fazer o devido uso desse ananás uma vez que os produtores mostram-se incapacitados para tal?

Quero iniciativa do meu governo. Quero mais acção e menos discurso

Estou de olho.

6 comentários:

Elísio Macamo disse...

interessante comentário. o governo podia, de facto, fazer mais. mas se calhar era preciso olharmos para o problema a partir de um outro ponto de vista: porque o governo não dá mais competências aos poderes locais para serem eles a fazer essas coisas? era até mais fácil exigir contas. o governo está muito longe, tem meios exíguos e ainda está a tentar perceber o problema.

Aguiar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aguiar disse...

Caro Elton
acho deveras interessante o seu post,pois faz referencia ao parente pobre do desenvolvimento - a agricultura, deforma extraordianaria. mas, talvez a questao esteja em saber se alguem esta interessado na agricultura familiar e se ja se alguem tentou aperceber-se, o quao este tipo de agricultura pode ser importante para o desenvolvimento do pais. O Governo conseguiu, por exemplo, mobilizar pelo menos 12 instituições estrangeiras para trabalhar no plantio da JATROFA (http://mozinovador.blogspot.com/2007/08/revoluo-jatrofiana.html); O interessante seria saber o que motiva o governo moçambicano a investir na produçao de jatrofa em detrimento do escoamento do ananas por exemplo. Tera algo a ver com a “industria do desenvolvimento” e o complacente “sim senhor” dos nossos governantes? O que benefecia mais os paises desenvolvidos a produçao de jatrofa ou a produçao de ananas?

Por outro lado, ainda que o poder local tivesse mais competencias, possivelmente poderia melhorar os acessos aos distritos, esta acçao per si seria suficiente para escoar uma produção anual de ananás acima de 18 toneladas em Sofala? Escoar para aonde. Apenas dentro de Moçambique, para os vizinhos da Africa austral ou jogar com a produçao sazonal de outros paises e tentar coloca-los na Europa à semelhança, do ananas da Côte d’ivoire ou das ilhas Reuniao, por exemplo. E ja agora pergunto sera que as variedades de ananas que se poduzem em Sofala ja adquiriram o label que lhes confere a qualidade para serem concorenciais nos mercados internacionais, ou mesmo para “simples” transformaçao no espaço nacional? o ananas de Gaza é produzido conforme as normas? A quem cabe verificar isto? As autarquias? Ao governo? Aos centros de investigaçao? À universidade? Aos empresarios motivados?

Acho bem que o governo incentive os camponeses a trabalhar a terra. Mas para além disto, em minha opiniao, modesta seja ela, é necessario que existam “fileiras integradas de produçao”. Agora, nao sei se o sistema de management de tais fileiras tenha que ficar necessariamente a espera do governo ou das autarquias. Talvez. Sera que a estruturaçao da fileira do ananas resultaria primordialmente da acçao estatal?

Elton B disse...

E mais. Agora com a famosa integração regional a coisa vai ficar preta para o nosso lado se continuamos na letargia, sempre a espera da iniciativa de fora, que como foi dito muitas vezes apenas intervêm em função de seus interesses. E com o pánico que se instalou em relacção a Africa do Sul iremos assistir o “bicho papão” abocanhando tudo que é oportunidade de investimento. Será?

Maquiti disse...

Fiquemos de olho

Aguiar disse...

corrigenda: onde se lê "anananas de Gaza" queria dizer obviamente "ananas de Sofala". Peço desculpas pela estruturaçao de agumas frases, assim como, pelo grafismo, para alem do meu teclado nao comportar assentos... tenho dificuldades na conexao internete... apercebo-me agora que as correcçoes, que havia feito, nao foram aceites... desculpe, sim?