sexta-feira, 28 de setembro de 2007

7+2=9


A Primeira-Ministra, Luísa Diogo, anunciou na Zambézia que a partir do próximo ano o Governo vais disponibilizar dois milhões de meticais para financiar programas de desenvolvimento local. O montante vai ser afectado às administrações distritais.
Fazendo minhas contas com os dedinhos da mão, 7+2=9. E os distritos passam assim a contar com “nove paus.” Os distritos vão receber mais dinheiro apesar de ainda andarem meio atordoados com os “sete paus” que já tinham. Há distritos que ainda não conseguiram fazer uso e aproveitamento racional da “mola”. Mesmo assim, vem ai mais dinheiro.
E vejam só, segundo a primeira-ministra, esta “mola” servirá para financiar programas de desenvolvimento local. E os “sete paus” eram para que fim? Sempre pensei que fossem para ser usado em programas de desenvolvimento local.
E assim os distritos somam e seguem.


Estou de olho…

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Sobre a finalidade da leitura


Apesar de ter marcado a humanidade não pelos melhores motivos, Adolf Hitler é uma figura incontornável da história e que dispensa apresentação. Hitler escreveu um livro entitulado Mein Kampf (Minha Luta), que é mais a sua biografia. Ao ler a obra, deparei com um treçho interessante sobre o que Hitler pensava da leitura. Leiam-no sem preconceitos:



“Sob o nome de leitura, concebo coisa muito diferente do que pensa a grande maioria dos chamados intelectuais.
Conheço indivíduos que lêem muitíssimo, livro por livro letra por letra, e que, no entanto, não podem ser apontados como "lidos". Eles possuem uma multidão de "conhecimentos", mas o seu cérebro não consegue executar uma distribuição e um registro do material adquirido. Falta-lhes a arte de separar, no livro, o que lhes é de valor e o que é inútil, conservar para sempre de memória o que lhes interessa e, se possível, passar por cima, desprezar o que não lhes traz vantagens, em qualquer hipótese não conservar consigo esse peso sem finalidade. A leitura não deve ser vista como finalidade, mas sim como meio para alcançar uma finalidade. Em primeiro lugar, a leitura deve auxiliar a formação do espírito, a despertar as disposições intelectuais e inclinações de cada um. Em seguida, deve fornecer o instrumento, o material de que cada um tem necessidade na sua profissão, tanto para o simples ganha-pão como para a satisfação de mais elevados desígnios. Em segundo lugar, deve proporcionar uma idéia de conjunto do mundo. Em ambos os casos, é, porem, necessário que o conteúdo de qualquer leitura não seja confiado à guarda da memória na ordem de sucessão dos livros, mas como pequenos mosaicos que, no quadro de conjunto, tomem o seu lugar na posição que lhes é destinada, assim auxiliando a formar este quadro no cérebro do leitor. De outra maneira, resulta um bric-á-brac de matérias aprendidas de cor, inteiramente inúteis, que transformam o seu infeliz possuidor em um presunçoso, seriamente convencido de ser um homem instruído, de entender alguma coisa da vida, de possuir cultura, ao passo que a verdade é que, a cada acréscimo dessa sorte de conhecimentos, mais se afasta do mundo, até que acaba em um sanatório ou, como "político", em um parlamento.
Nunca um cérebro assim formado conseguirá, da confusão de sua "ciência", retirar o que é apropriado às exigências de determinado momento, pois seu lastro espiritual está arranjado não na ordem natural da vida mas na ordem de sucessão dos livros, como os leu e pela maneira por que amontoou os assuntos no cérebro. Quando as exigências da vida diária dele reclamam o justo emprego do que outrora aprendeu então precisará mencionar os livros e o número das páginas e, pobre infeliz, nunca encontrará exatamente o que procura.
Nas horas críticas, esses "sábios", quando se vêem na dolorosa contingência de pesquisar casos análogos para aplicar às circunstâncias, só descobrem receitas falsas. Não fosse assim e não se poderiam conceber os actos políticos dos nossos sábios heróis do Governo que ocupam as mais elevadas posições, a menos que a gente se decidisse a aceitar as suas soluções não como conseqüências de disposições intelectuais patológicas, mas como infâmias e trapaçarias.
Quem possui, porém, a arte da boa leitura, ao ler qualquer livro, revista ou brochura, dirigirá sua atenção para tudo o que, no seu modo de ver, mereça ser conservado durante muito tempo, quer porque seja útil, quer porque seja de valor para a cultura geral. O que por esse meio se adquire encontra sua racional ligação no quadro sempre existente que a representação desta ou daquela coisa criou, e corrigindo ou reparando, realizará a justeza ou a clareza do mesmo. Se qualquer problema da vida se apresenta para exame ou contestação, a memória, por esta arte de ler, poderá recorrer ao modelo do quadro de percepção já existente, e por ele todas as contribuições coligidas durante dezenas de anos e que dizem respeito a esse problema são submetidas a uma prova racional e ao nosso exame, até que a questão seja esclarecida ou respondida.
Só assim a leitura tem sentido e finalidade.”

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Governo quer instalar centro multimédia em cada distrito


“O ministério da Ciência e Tecnologia têm como desafio para os próximos tempos, instalar pelo menos um centro multimédia comunitário (CMC) em cada um dos distritos do país. Os centros multimédias são locais onde as comunidades que vivem em zonas rurais podem ter contacto directo com as novas tecnologias de informação e comunicação, neste caso concreto meios informáticos com acesso aos serviços de internet e estações comunitárias de radiodifusão.”

in Jornal Diário de Moçambique(24/09/2007)

Até já estou vendo o cenário. Grandes cerimónias de inauguração, com fitas vermelhas para cortar. Com membros do governo fazendo-se representar pelos seus mandatários (governadores, administradores, directores provinciais, etc); os curandeiros convocados para afugentar os espíritos malignos do local (não vão estes espíritos introduzir vírus nos computadores); discursos de conteúdo que já conhecemos porque ouvimos os mesmos em todas ianugurações, é um discurso pré fabricado, e vai mudando apenas o nome da obra a inaugurar e a data em que será lido; e por fim, o grosso da população do lado de fora da cerimónia aplaudindo sem saber bem porquê.

Pois, parece que este governo não aprende. Sempre metendo os pés pelas mãos. Resta saber se intencionalmente ou não. Mas não sei que nome damos a quem comete mais de duas vezes o mesmo erro. Como o governo sabe que a população dos distritos precisam agora de centros multimédias? Ou por outra, eles pediram tais centros?
Lembro-me de ter já escrito sobre uma ascultação que o governo distrital de buzi estava levando a cabo com vista a organização das festas do aniversário da vila, cujo artigo pode ser lido aqui.

Este caso dos centros multimédias é um desses em que as ascultações seriam de uma utilidade impar.
Não tenho nada contra instalação de centros desses nos distritos, nem penso que a população dos distritos não tenham direito ao acesso às novas tecnologias de informação. Apenas ocorreu-me o conceito de necessidades prioritárias. Penso que é preciso primeiro identificar necessidades básicas para as populações. Satisfeitas essas necessidades, novas surgirão e assim sucessivamente, até chegarmos aos centros multimédias.
Ainda não andei em todos distritos mas não preciso ser mágico para saber que em muito deles há necessidades que vão muito além de um centro multimédia. Além de que em muitos desses distritos nem condições para instalar tais centros existe. Falo de condições como energia eléctrica por exemplo. O que provavelmente irá acontecer em muitos desses centros é ter o equipamento coberto de poeira por falta de uso porque não há energia para alimentar as máquinas.
Se a ideia do governo é colocar o distrito em contacto com o mundo, porque não começar com reabilitação das picadas que ligam os distritos entre si e às capitais provinciais? Penso que se o governo se quiser mostrar serviço deve fazer muito mais que isso. Deve acima de tudo saber identificar prioridades.

Estou de Olho...

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ivo Garrido muda de táctica

O ministro da saúde Ivo Garrido decidiu alterar seu modus operandis. Se antes as visitas relâmpagos às unidades hospitalares eram feitas no período nocturno, na sua última visita surpreendeu a todos (excepto os jornalistas, claro!) com visitas surpresas no período da manhã.
Um dos objectivos da sua visita pela manhã era fiscalizar a pontualidade dos funcionário das unidades hospitalares.
Ivo Garrido constatou que há muitos funcionários que não são pontuais e estes devem ser penalizados como regem os estatutos dos funcionários do Estado.

Desafio os jornalistas, que com muito afinco e pontualidade fazem a comitiva de Ivo Garrido nas suas visitas surpresas, para que façam também um teste. Que tal se fizerem umas visitas relâmpagos pela manhã aos ministérios e direcções provinciais para verificarem se os nossos dirigentes (ministros e directores) são exemplo de pontualidade? E se por acaso constatarem alguns prevaricadores, procurem saber se serão (ou se alguma vez foram) tomadas medidas de acordo com os estatutos dos funcionários do Estado.

Estou de olho...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Entre inquéritos e demissões

Segundo constatações preliminares da inspecção do trabalho de Sofala, o desabamento há dias do silo de cimento para a produção de betão armado para a construção em curso da ponte sobre o rio Zambeze, ligando Caia e Chimuara, deveu-se ao facto de a estrutura de base não ter suportado um peso de 150 toneladas de cimento que estava sendo processado. Como resultado morreram dois operários, além de danos materiais.
O director provincial de Trabalho em Sofala afirmou que “ficamos com a impressão de que os tubos são ocos, por isso, não suportaram o peso das 150 toneladas de cimento, contrariamente aos que apoiam os outros três silos existentes no local e achamos que a entidade patronal devia estar atenta a esse aspecto.”O director provincial de Trabalho disse ainda que o seu sector aguarda pelos resultados de equipa especializada na matéria (Obras Públicas e Habitação), que trabalha para determinar as vredadeiras causas que originaram o desabamento do silo.

Eu pergunto: o que acontecerá depois de apresentados os resultados pela equipa especializda? Alguem será responsabilizado por isso? Alguem pagará por isso? E se não se encontrarem os responsáveis? Alguém se vai demitir?
Ou ficará como sempre: “foi um acidente e acidentes acontecem.” E mais uma vez a culpa morrerá solteira?

Enquanto isso, não muito distante alguém foi exemplar. Lucas Renço, administrador do distrito de Caia pediu cessão de funções ao governador provincial de Sofala. Certos circulos locais associam o facto a uma disputa de regulado mal gerida. em Caia, os régulos Sacatucua e Gumançanze têm estado em conflito, reclamando cada um o direito de exerce autoridade na mesma região, chegando a resultar em violência física.
Só espero que a disciplina partidária não seja para aqui chamada. É que o homem e correr ainda riscos de levar um grande puxão de orelhas pela iniciativa de bater com a porta. Ou a demissão está associada a febres de demissões que anda ai pelos distritos e que tem atacado administradores e secretários permanentes?

Estou de olhos nos próximos capítulos

Ivo Garrido volta a carga

O ministro da saúde Ivo Garrido fez terça-feira visitas nocturnas a três unidades hospitalares. Foi mais uma daquelas incursões que os jornalistas apelidam de “visitas relâmpagos”, por serem supostamente visitas surpresas. Cá por mim, pela encenação que é feita em torno das visitas, de surpresa elas não tem nada. Mas isso é um outro assunto que talvez me lembre de discuti-lo. Quem sabe no relâmpago da próxima tempestade, quero dizer, quem sabe na próxima visita. Mas não é isso que me fez escrever.
No final da visita, o ministro disse estar satisfeito com o que viu. Principalmente por não ter encontrado longas filas de pacientes esperando por atendimento, cenário diferente de à cerca de 1 ano, em que nos hospitais via-se um cenário de filas com mais de 200 pacientes. Para Ivo Garrido, estas mudanças estão relacionadas com a melhoria da qualidade do atendimento nos hospitais.

São conclusões tiradas desta forma que as ciências sociais devem rejeitar.
Quais as bases do ministro para afirmar que a qualidade do serviço melhorou? A simples ausência de filas não pode constituir única variável explicativa para a diminuição das nos hospitais. Outras razões ou hipóteses podem ser levantadas. Que tal se pensarmos que as filas diminuíram porque as pessoas deixaram de acreditar nos serviços de saúde prestados nos hospitais durante a noite? Mais. E que passaram recorrer aos serviços dos médicos tradicionais e daqueles que anunciam nos jornais que curam tudo? E se o tão propalado combate a pobreza absoluta estiver surtindo efeitos? Talvez o resultado não seria melhoria até no estado de saúde das pessoas dai menos pessoas nas filas dos hospitais? Tem mais. Que tal se pensarmos que devido à crescente onda de criminalidade, as pessoas tem medo de andar à noite, dai ir menos vezes ao hospital nesse período do dia! Alguém tem mais hipóteses para ajudar o ministro a reflectir melhor sobre o fenómeno?
Cuidado com as aparências. Duvidai e investigai senhor ministro. Duvidai e investigai.

Estou de olho...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Bem vestidos não somos pobres

O secretário-geral do partido Frelimo, Filipe Paúnde, enalteceu anteontem (15/09/2007), no distrito do Dondo, em Sofala, o papel e o esforço que a população daquele ponto do país tem vindo a desenvolver nos últimos anos, com vista ao combate à pobreza... explicou ainda em comício popular que durante a sua estada de pelo menos oito horas de tempo naquele ponto de Sofala, deu para notar que a população está engajada na erradicação da fome e miséria, apostando na agricultura e no desenvolvimento de vários projectos de geração de renda.
“Eu já fui administrador do Dondo e naquela altura não havia pessoas assim bem vestidas, mas hoje isto já acontece, graças ao vosso próprio esforço”─ explicou Paúnde.
in Jornal Diário de Moçambique (17/09/2007)

Interessante.
Numa passagem de cerca de oito horas de tempo o secretário-geral da Frelimo conseguiu ter uma ideia dos esforços da população para erradicação da fome e miséria.
Foi pelo facto de ter visto pessoas “bem vestidas” que chegou a esta conclusão?
Depois da leitura fiquei umas horitas (menos que oito horas de tempo) me questionando o que seria estar “bem vestido.” E de seguida onde (local) foram vistas estas pessoas? Aqui é um pouco o questionar se a amostra para afirmar que as pessoas andam bem vestidas, é representativa.
O governo distrital deve ter uma base de dados (será?) com informação sobre o distrito. E talvez até em menos de oito horas é possível ter a informação do distrito e em função dos dados disponíveis (se forem completos) chegar a conclusão se verifica-se ou não uma tendência para erradicação da miséria.
Será que foi falta de clareza na redacção da notícia?

O perigo para os próximos tempos


Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (I.I.E.E.) no seu relatório anual publicado no dia 12/09/2007, o terrorismo islâmico (particularmente a Al-Qaeda) e o aquecimento global, representam as principais ameaças com que o mundo será confrontado em 2008.

Depois de ler a notícia surgiram três questões que achei importante para reflexão.
1. O I.I.E.E. definiu terrorismo islâmico e aquecimento global como principais ameaças para o futuro. Eu penso que dentre outras esta faltando uma impossível de esconder. O fosso cada vez maior entre os ricos e pobres, isto é, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Apesar de se falar constantemente na distribuição equitativa da riqueza, a humanidade tem se mostrando incapaz de fazer esta repartição equitativa. Penso que nem preciso perder tempo escrevendo aquela ladainha que todos conhecemos de cor e salteado sobre as consequências nefastas e negativas dessa má distribuição da riqueza a nível mundial.

2. A segunda questão, e que poderá ser polémica porque acredito que muitos irão discordar comigo esta relacionada com a ideia do terrorismo islâmico (particularmente Al-Qaeda) como ameaça mundial para o futuro. Para o futuro de quem? Futuro dos Estados Unidos da América (E.U.A.) e meia dúzia de seus aliados? A não ser que o pensamento esteja organizado na lógica do silogismo:
E.U.A. e meia dúzia de seus aliados controlam o mundo e por isso se acham donos dele;
Terrorismo islâmico (Al-Qaeda)é uma ameaça constante aos E.U.A. e seus aliados (não esqueçamos, meia dúzia deles);
Logo, terrorismo islâmico é uma ameaça ao mundo.
Será?
Que eu saiba, cada vez que a Al-Qaeda e Osama Bin Laden aparecem nos órgãos de comunicação é para ameaçar os E.U.A. mesmo quando se referem ao ocidente acabam caindo sempre nos E.U.A.
Quem deve então pôr-se a paus?

3. Por fim, quando olho para as principais causas de ameaça no futuro, todas tem a particularidade de serem causadas pelo homem. É caso para dizermos que o homem é lobo do homem. E a reversão do quadro depende do próprio homem. Há vontade para tal? É outra discussão que já tem barbas brancas.

Estou de olho...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Auscultação pública


Com vista a colher sensibilidades e subsídios para as comemorações do 43º aniversário, o governo distrital deBuzi lançou uma auscultação plica, com encontros que decorrerão uma vez por semana.
As minhas antecipadas felicitações a vila de Buzi pelo seu aniversário. Esta de parabéns também o governo distrital de Buzi pela ideia de “auscultar”, de ouvir as “suas ovelhas”. E principalmente se a iniciativa é do próprio governo distrital. Canta-se aos quatro ventos a importância da descentralização na máquina governativa.

Que venham mais auscultações. Não apenas no distrito de Buzi mas em mais distritos deste vasto Moçambique. Mas não auscultações apenas sobre como deverão ser organizadas determinadas festas, quero ouvir falar também de auscultações sobre como devem ser gastos os famosos 7 milhões de meticais. Quero ouvir auscultações sobre as prioridades e necessidades da população local. Escola ou hospital? Palácios judiciais ou estradas e vias de acessos? Fontanários ou moageiras? Produção da jetrofa ou de algodão? E que tal se o governo auscultar ainda se a população local anda ou não satisfeita com o seu (governo) desempenho?

Estou de olho...

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ra, re, ri, ro, rruuuuaaa!!!!


Na África do Sul, o deputado da Aliança Democrática (AD) a maior força da oposição, Mike Waters, foi expulso do hemiciclo pela presidente Baleka Mbete, após ter submetido por escrito uma pergunta à ministra da saúde sobre factos relatados na imprensa. Waters perguntou à ministra se é verdade que em 1976 foi condenada por furto no Botswana, quando era superintendente de um hospital naquele país e consequentemente expulsa e proibida de entrar no país durante um período de 10 anos.

A avaliar pelos deputados que temos e pelo tipo de discussão que assistimos na 24 de Julho, adivinhem ao fim de cada sessão quantos deputados estariam presente se a presidente Mbete estivesse dirigindo o nosso hemiciclo e pautasse pela mesma postura?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Vale a pena ler


Este é um texto longo para acompanhar o fim-de-semana que ai vem. Também ele longo. Gosto de chamar a estes fins-de-semana de XL (extra large). Estava eu feito rato de biblioteca, no meio de muitas obras fazendo umas pesquisas bibliográficas e encontrei este texto. Achei-o interessante publicar e transcrevo o texto na íntegra. Provavelmente muitos já leram. Para estes, ler mais uma vez não lhes vai provocar overdose. Para os que lêem pela primeira vez, disfrutem-no.

É um diálogo em que o objectivo é demonstrar que a quantidade não é suficiente para se ter razão. É uma oposição as teses segundo as quais, o povo, não precisa ter razão, basta estar em superioridade numérica.

“─ Diz-me, Péricles, poderias ensinar-me o que é a lei?
─ Evidentemente ─ responde Péricles.
─ Em nome dos deuses, ensina-me. Ouço gabar certas pessoas por observarem religiosamente as leis e acho que ninguém pode merecer esse elogio se não souber o que é uma lei.
─ Desejas, Alcibíades, uma coisa muito fácil, se queres saber o que é uma lei. Chama-se assim a toda a deliberação em virtude da qual o povo reunido em assembleia decreta o que se deve fazer ou não fazer.
─ E o que o povo ordena que se faça, é o bem ou o mal?
─ Ora, jovem, é o bem, certamente ─ responde Péricles. ─ Queres que o povo ordene o mal? ─ E aqui transparece o “optimismo democrático”, de que a presunção do bom juízo do povo é um elemento fundamental.
Alcibíades não responde directamente e desencadeia um ataque mais subtil, onde brilham os seus talentos de dialéctico instruído na escola de Sócrates:
─ Mas se não for o povo, se for um pequeno número de cidadãos, como na oligarquia, a reunir-se e a prescrever o que se deve fazer, como se chama a isso?
─ Desde que a porção de cidadãos que governa ordene alguma coisa, é uma lei ─ observa Péricles.
─ Mas se um tirano usurpa o poder e prescreve ao povo o que este deve fazer, ainda é uma lei? ─ Prossegue Alcibíades.
─ Sim, porque provém daquele que manda.
Péricles formula assim a concepção do positivismo jurídico: a identificação da lei com a ordem que emana regularmente do poder estabelecido, desde que o seu exercício seja conforme à constituição. Não tem cabimento apreciar o conteúdo interno do imperativo; só há que examinar se é imposto regularmente pelas autoridades instituídas.
Alimentado de filosofia, Alcibíades volta à carga:
─ Mas então, quando é que se trata de violência e subversão das leis? Não é quando o poderoso, desprezando a persuasão, obriga o fraco a fazer o que ele quer?
Deste modo, Alcibíades propõe um critério novo: a lei só terá validade no caso de aqueles a quem obriga a aceitarem por meio de persuasão. A partir do momento em que a regra lhes for imposta, haverá violência e falta aos princípios das leis. A ideia é extremamente importante e será retomada por Platão, com vista a distinguir entre a acção política, imperativo exercido por meio de persuasão, e a ordem imposta, que não será digna desse nome.
Péricles assente: ─ Acho que sim.
Alcibíades aproveita: então, o tirano que obriga o cidadão a seguir os seus caprichos é inimigo das leis?
Desta vez, Péricles bate em retirada:
─ Sim, enganei-me ao chamar leis às ordens de um tirano que não emprega a persuasão.
A partir desta altura, Alcibíades recupera definitivamente a supremacia e, do tirano, retorna à oligarquia:
─ Mas quando um pequeno número de cidadãos, revestidos do poder soberano, impõe a sua vontade à multidão sem obter consentimento, chamamos a isso violência ou não?
Nova aprovação de Péricles:
─ Venha a ordem de onde vier, seja escrita ou não, desde que se baseie apenas na força, parece-me mais um acto de violência do que uma lei.
Assim, por meio da dialéctica do seu jovem pupilo, Péricles é obrigado a admitir, sucessivamente, que a introdução de coerção vicia a lei, que essa coerção é habitual no tirano e nos oligarcas, mas que também se pode encontrar na multidão em democracia. Contudo, Péricles minimiza a sua derrota reconduzindo o debate a uma controvérsia de escola:
─ Quando tínhamos a tua idade ─ diz a Alcibíades ─ éramos muito entendidos nesses problemas. Gostávamos de subtilizar, de sofisticar, como tu fazes agora.
E Alcibíades conclui com um cumprimento que não é isento de ironia:
─ Péricles, como eu te ouvia nesse tempo em que estavas acima de ti próprio!”

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

S.O.S. Ananás a solta


Os distritos de Chibabava e Cheringoma na provincia de Sofala registam uma produção anual de ananás acima de 18 toneladas. Esse ananás é produzido na sua maioria por camposeses da região. Dessa produção, uma arte ínfima é comercializada no mercado informal, principalmente aos automobilistas ao longo da estrada nacional número 1. O que sobra, que constitui a maior parte, deteriora-se. Este cenário já dura uns anitos.

Eu ando enganado, ou o nosso governo anda cantando aos quatro ventos que a terra é a maior riqueza que temos, incentivando deste modo os camponeses a trabalhar a terra? O mesmo governo que não se farta de lembrar ao seu rebanho o lema de fazer o distrito pólo de desenvolvimento.

Imaginemos agora que cada província decida acatar ao governo e na sua máxima força meter a enxada na terra e usufruir das suas potencialidades agricolas? O que se faria com toda produção que da terra fosse retirada? Imaginem.
Não pretendo que seja o governo directamente a escoar ou a montar industrias de transformação dessa materia prima (se bem que era o ideal). Mas cabe ao governo criar condições para maximização dessa produção. É tarefa do governo criar condições de trabalho. Os acessos aos distritos estão criados? As infra-estruturas estão montadas? O governo se faz presente como mediador desse pólo de desenvolvimento que é o distrito?
O ananás esta ai. E agora? O governo anda distraido ou esquecido? Impávido e sereno vai assistindo o ananás deteriorar-se em quantidades industriais. A quem compete convencer o investidor privado (nacional ou não) a fazer o devido uso desse ananás uma vez que os produtores mostram-se incapacitados para tal?

Quero iniciativa do meu governo. Quero mais acção e menos discurso

Estou de olho.

Em Sofala: governo promete atingir meta de 145 salas previstas para 2007


Isto apesar de o director provincial de Educação e Cultura em Sofala, Alves Cangana em entrevista ao Diário de Moçambique (05/09/2007) afirmar: “não posso estimar o número, mas ainda temos, de facto, crianças que estudam em condições precárias, mas felizmente a situação reduziu bastante porque, por um lado, temos a construção acelerada de salas de aulas que iniciou em 2005, e por outro, o engajamento das próprias comunidades que, na medida do possível, nos têm ajudado na construção de infra-estruturas escolares através de material local.”


Contraditório. Como o governo sabe qual o número exacto de salas de aulas se nem sabe qual o número de estudantes que necessitam delas?
São os dirigentes que temos.
Deixo os comentários à vosso critério.

Estou de olho...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Governo constrói palácios judiciais

Visando flexibilizar a tramitação processual, governo constrói palácios judiciais em Nampula, Inhambane e Sofala.
De acordo com o coordenador nacional de apoio e acesso a justiça ao cidadão, Eduardo Muçanhane, “o projecto de construção de palácios de justiça visa acabar com bichas de processos judiciais nos tribunais e garantir que os cidadãos vejam os seus casos resolvidos em tempo útil.” Ainda segundo Muçanhane, “pretende-se que as instalações ofereçam todo o tipo de serviço relacionado com a justiça tendo dentro destes palácios, o tribunal, a polícia, procuradoria, polícia de investigação criminal, IPAZ, para além de outros serviços. É uma estratégia que visa garantir que o cidadão ao levar seu caso ao tribunal encontre dentro das instalações todos os órgãos prontos para o servir sem grandes deslocações a procura deste ou daquele sector para questões de tramitação de processos judiciários.”

O que nos faz lembrar? Os famosos balcões únicos de atendimento. Falou-se tanto neles e na sua vantagem ao concentrar todos serviços num mesmo edifício. Ao fim destes anos estes balcões estão conseguindo responder as necessidades para os quais foram criados? Nem em sombras. Tanto que na cidade da Beira estão em vias de extinção. Transformou-se num balcão apenas para recolher informação.

Com esta medida, o governo pretende passar a mensagem que a culpa da morosidade dos processos é dos edifícios?
Tenho imensas dúvidas que com estes palácios alguma coisa mude. Não quero ser pessimista, apenas realista. O que muitas vezes os nossos governantes não percebem é que não se trata da localização dos serviços no espaço físico, mas sim das peculiaridades da própria organização do trabalho. Por mais imponentes e modernos forem os palácios judiciais, se os vários serviços não estarem organizados e coordenados, continuará tudo na mesma. É outra vez aquela máxima do rolex no pulso mas sempre atrasado ao encontro.

Os governantes devem parar de sacudir água do capote e procurar bodes expiatórios para as suas inacções. Vezes sem conta ouvimos frases do tipo “falhou por falta de verbas/dinheiro”, “faltou transporte”, “trabalhamos sem condições”, etc. Sei que a inexistência de meios constitui um factor determinante para abordagem e possível solução de problemas. Mas ficaria feliz se ouvisse com mais frequência afirmações do tipo: “dada a inexistência de meios, procuramos/tentamos resolver o problema de forma X e Z.” Quero dizer que os nossos governantes devem mostrar-se em condições de com os meios disponíveis encontrar e apresentar possíveis soluções.

Estou vivo para ver esses palácios em funcionamento

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A estabilidade política no país depende dum pacto


Este artigo vem na sequência de uma noticia publicada no jornal O País On-line de 31/08/2007 e que pode ser lida aqui. Só hoje comento a notícia porque a minha Internet anda tão lenta que desde que fiz o click na notícia no dia da sua publicação, só hoje abriu a página (Brincadeira. Andei distante da “civilização” por uns dias).
Confesso que a abordagem será um pouco apalpando o escuro uma vez que a notícia não é clara. Não sei se porque o próprio discurso do líder do maior partido da oposição fez um discurso pouco claro, ou porque na redacção da notícia algo foi omitido.
As maiores zonas de penumbra na notícia são em relacção ao “pacto pertinente” que se fala na notícia- Fiquei sem saber qual a natureza desse pacto; e não percebi qual de facto é a actual situação que deve ser revertida. Qual esse estado das coisas!
Independentemente dessas dúvidas, depois de ler a notícia ficou martelando na minha cabeça uma pergunta que conduziu a uma série de outras, outras e mais outras. O que faz o líder do maior partido da oposição pensar que um pacto com o seu “inimigo de estimação” irá reverter a tal actual situação? Será que o maior partido da oposição tem uma carta na manga ou uma varinha resolvedora de problemas que só sairá se haver pacto?
Percebo muito pouco de jogadas políticas, mas parece que o maior partido da oposição tem tido dificuldades de aproveitar para seu benefício quando o vento sopra a seu favor. Se de facto tem uma carta ou varinha resolvadora que possa mudar a tal actual situação (que ainda não sei qual, mas que suponho ser negativa), porque não aproveitar o parlamento para ganhar pontos. Em democracia que outro espaço melhor que este para a oposição ao governo expor suas ideias? Apesar de eu pessoalmente ter dúvidas que num parlamento como nosso consiga fazer passar suas ideias. Mas de qualquer das formas tem este espaço onde pode dar a conhecer seu trabalho para reverter o actual estado das coisas.
Além disso, o próprio líder do maior partido da oposição como membro do conselho de Estado pode expor suas ideias de o que fazer e como agir para reverter a situação. As suas ideias podem não passar mas uns pontos pode somar. E de ponto a ponto quem sabe se um dias a sorte não começa cantando uma serenata a sua janela!
Em todo caso, já acho positivo admitir que é possível partidos em posições diferentes trabalhar em conjunto para o bem comum. Quem sabe assim, seus seguidores e simpatizantes passam a pensar o mesmo e a partir dai reduzem as querelas partidárias nos locais de trabalho e por ai fora por “dá cá esta palha.”

Onde isto vai dar? Estou de olho.